quarta-feira, 6 de julho de 2016

FUTURO CINZENTO, TALVEZ NEGRO

   Portugal quis fazer parte da elite mundial e para isso ade­riu à União Europeia (na altura chamava-se Comunidade Económica Europeia). Estáva­mos em mil novecentos e oiten­ta e seis. Recebemos ajudas e criou-se uma dinâmica como se se tratasse dum País em vias de desenvolvimento. Aqui e  ali pareceu que a nossa mentalidade iria mudar e que deixaríamos de ser o País das baldas, do desleixo, das irresponsabilidades e que passaría­mos a ser um Povo mais produtivo, lutador incansável e criando riqueza para ser dis­tribuída com justiça social. 
Mas..."a montanha pariu um rato". A realidade está à vista, pon­do os Portugueses descrentes, depressivos, sem auto-estima ou referências e valores que possam alterar este estado de coisas.
A verdade é que, passados todos estes anos, as ajudas vão terminar deixando-nos, prati­camente, entregue a nós pró­prios. Em contrapartida, outros Povos mais atractivos, e com valores bem mais homogéneos e consistentes que nós, irão partilhar o nosso território de concorrência e receberão as ajudas idênticas às que nós já recebemos.
A abertura da União Europeia a Leste poderá vir a constituir o nosso maior problema, desde o vinte e cinco de Abril. Portu­gal, durante este período de apoios, não interiorizou que a produtividade era factor essencial para que pudésse­mos ser mais solidários, mais empreendedores, mais traba­lhadores, mais eficientes. Em cada sector, em cada activida­de, em cada empresa deveria ter estado presente que a "ga­linha dos ovos de ouro" seria efémera. E isso não aconteceu pois, du­rante aquele período, faltou uma cultura de responsabilida­de consistente e não soubemos interiorizar que a produtivida­de seria a primeira forma de solidariedade. Houve Portugueses para quem isto era óbvio e Por­tugueses para quem não o foi, assim como houve Portugue­ses que estiveram disponíveis e motivados para aquele desafio e Portugueses para quem o desafio era excessivo ou desne­cessário. O resultado está à vista: vive-se hoje em Portugal uma verdadeira tensão, uma tensão essencial­mente social que atravessa to­das as classes e condições. So­mos hoje o Povo menos pro­dutivo da União Europeia. Mas, por exemplo, são Portugueses vinte e cinco por cento dos trabalhadores do Luxemburgo, o Povo mais produtivo da Eu­ropa!
 Mas, o que está mal entre nós pois não alteramos os nos­sos maus hábitos? Creio, e cer­tamente muitos concordarão comigo, que o que está mal en­tre nós é o sistema político e, consequentemente, os que en­tendem dever regular a sua ac­ção segundo as necessidades do momento para chegarem mais facilmente a um resultado tem-­porizador, aguardando as cir­cunstâncias oportunas. Chamo a isto OPORTUNISMO. Afir­mando-se contrariamente à verdade, que não é o que parece ser. Chamo a isto MENTIRA. Pobre Povo, cuja PÁTRIA é a Língua Portuguesa.
Vamos deixar que isto continue assim, sem corrigir nada? Seremos incapazes de evitar que a História se repita?
Manuel Alberto Morujo
6 de Fevereiro de 2004

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