terça-feira, 19 de julho de 2011

FRASE DA SEMANA (19-25 DE JULHO 2011)

"A verdade é tão preciosa que precisa ser protegida por uma escolta de mentiras."
Wiston Churchil (1874-1965)
                                                                                                  

A GLOBALIZAÇÃO

“NÃO LOUVO, NEM CONDENO”
Padre António Vieira (1608-1697)

O mundo conturbado em que hoje vivemos, não deixa de ser a consequência lógica duma alteração de valores, e referências, por a sociedade não ter conseguido reconhecer e acompanhar as aceleradas mudanças universais dos costumes, das questões morais e éticas, do conceito do bem e do mal e do respeito pelos direitos dos seres humanos que, para muitos, não são mais do que sofismas.
A liberdade é o fundamento necessário da ordem moral e, ser-se livre, consiste no reconhecimento das leis da nossa possibilidade de acção, dentro dos limites estabelecidos e exigidos pela ordem social. É o poder fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, e levar uma vida digna de si e da sociedade humana. Na verdade, negada a liberdade deixam de existir acções moralmente boas ou más, deixa de existir a obrigação e o direito, a responsabilidade e a sanção e o motivo para evitar as acções más, assim como o estímulo das boas, isto é, deixa de existir toda a vida moral.
E foi certamente porque estes conceitos não foram aprofundados, ou pelo menos não foram suficientemente geridos, o que me leva a pensar que a globalização foi efectuada apressadamente num tempo de inexistência da paz, pois esta nunca existiu desde a II Grande Guerra como provam os conflitos existentes desde então. Por isso, constato, face aos recentes acontecimentos, que foi a ausência de regras comuns de coexistência humana o que levou a que a intranquilidade e perturbação nas sociedades ditas ocidentais e desenvolvidas, permitisse que, tranquilamente, se desenvolvessem algumas abominações em regiões longínquas nas quais se cometem crimes hediondos. A inquisição levou tempo a desaparecer. E os teólogos protestantes não eram melhores do que os “talibans” ou os “totalitaristas”.
Não me estou a ver num mundo fundamentalista. O que esta gente quer no fundo é pôr em causa as conquistas da melhoria do nível de vida de algumas populações. Mas também aqueles que se dizem do mundo “livre” não quiseram, por razões de interesses vários, contribuir para as desigualdades existentes. Deixemos de hipocrisias: a globalização foi um erro pelo menos na simplicidade com que apareceu. E a prova disso são:
Os recentes atentados em Madrid e na Palestina, como o têm sido, constantemente, em Israel e no Iraque;
As constantes preocupações em que vive hoje o mundo ocidental - devido ao facto de não ser construída a paz nos locais de maior conflito, onde o nível de vida das populações está abaixo da miséria;
As mentes perversas, que continuam a olhar para o “umbigo” e não encaram a realidade do início do século XXI;
As posições extremas de radicalismo quer venham do Oriente ou do Ocidente.
Quem consegue alterar o percurso da história, que se avizinha de terror? Tenho sérias dúvidas que se consiga, tão depressa quanto o desejado.
 Manuel Alberto Morujo
(Distrito de Portalegre, 26 de Março de 2004)

domingo, 17 de julho de 2011

HAVERÁ DESENVOLVIMENTO EM PERÍODO DE CRISE?

Não é preciso ser muito le­trado para saber que o desen­volvimento do País tem sido inversamente proporcional, ao aumento do défice público. Nem tão pouco especialista para concluir que o peso do Estado asfixia esse desenvolvimento, nomeadamente, com o aumen­to incontrolável da despesa que é in­versamente proporcional à dimi­nuição das receitas, consequên­cia primeira da fuga ao fisco. Qualquer vulgar cidadão, deste País, sente que não tem havido um desenvolvimento assente num planeamento correcto do que se pretende fazer, assim como a definição duma estraté­gia mobilizadora que agregue a vontade de todos no processo de superação da crise, que terá tido início nos anos oitenta com uma situação similar à que hoje decorre e que levou, na altura, à intervenção do F.M.I. (Fundo Monetário Internacional).
Os ciclos de crise acontecem em Portugal, com uma certa re­gularidade e, mesmo assim, o poder político parece nunca querer aprender com o passa­do. Mais grave é, quanto a mim, o facto dos dois principais par­tidos, o Partido Social - Demo­crata e o Partido Socialista, te­rem tido a primazia de nos te­rem (des)governado, nos últi­mos trinta anos e surgirem sem­pre, quando estão na oposição, a criticar quem está no Go­verno pelos mesmos erros e ati­tudes daquelas que tiveram, quando governavam.
Com atitudes, como estas, certamente que o país dificil­mente recuperará do fosso em que caiu. Pensava eu, ainda há poucas semanas, que a classe política se tinha mentalizado que havia a necessidade de se unir em torno de reformas ne­cessárias à recuperação e de­senvolvimento do País!!! Nada de mais romântico, constato ago­ra. O que nos resta é apertar o cinto, esperar que a crise não pior e que a realidade e o prag­matismo surjam algum dia, de modo a sentirmos orgulho de “viver neste espaço à beira-mar plantado”.
Manuel Alberto Morujo
(Junho de 2005)


sábado, 16 de julho de 2011

DESINTERESSE, IMPOTÊNCIA E IGNORÂNCIA

“Para falar ao vento bastam palavras. Para falar ao coração são necessárias obras”.
Padre António Vieira (1608-1697)

Só o humano possui a capacidade de inventar tudo acerca do mundo e acerca de si próprio, para se perspectivar como humano e, consequentemente, agir como tal. Efectivamente, numa sociedade em permanente e acelerada mutação, como é aquela em que vivemos, cada vez faz mais sentido mudar, inovar. Temos de mudar é dito por políticos e governantes, educadores e cientistas, jovens e pais, dirigentes e professores, empresários e gestores. Palavras vãs que a realidade tende a confirmar. Na verdade, o desinteresse, a impotência e a ignorância são forças negativas que impedem ou dificultam a abertura à mudança a qual passa, fundamentalmente, pela criatividade. Se é certo que todos nós possuímos talentos criativos, que tal como as aptidões físicas e intelectuais podem ser treinados e desenvolvidos, não deixa de ser também certo que a sua manifestação varia de pessoa para pessoa, dependendo bastante do contexto sócio-cultural em que nasce, cresce e vive.
Mas a realidade é bem diferente. A mudança de hábitos e atitudes não acontece. E, por isso, o POVO PORTUGUÊS se tornou, quer na euforia quer na depressão, um POVO DOENTE. É fácil constatar que cada vez há mais portugueses a refugiarem-se no soporífero (televisão e futebol), no excitável (voyarismo e erotismo), no sobrenatural (seitas e astrologia), na evasão (modas e drogas) recusando-se a pensar, a conhecer e a intervir. Os níveis de crítica volatilizam-se na política, na imprensa, no ensino, nas artes, nos espectáculos, nos convívios e nos sentimentos. Mais: a reflexão intelectual fez-se um desperdício, a competência profissional um supérfluo, a honradez pessoal uma inconveniência, a dignidade cívica uma velharia. Não provocar ondas impôs-se uma divisa. É-se apreciado pelo que se diz, não pelo que se faz. É-se retribuído pelo que se exibe, não pelo que se aprofunda.
E, chegados aqui e agora a este estado de coisas, é minha convicção que isto só se alterará quando, cada um de nós, deixar de ser um mero espectador passivo do teatro levado a cabo por actores, que fazem da política a arte de mentir tão mal, pensando que só poderão ser desmentidos por outros políticos. Excluindo aqueles que aqui e ali vão denunciando e destapando os males da actual sociedade (de que é exemplo alguma, pouca, comunicação social) o facto é que, tirando alguns grupos instalados no regime, nas instituições e nos privilégios ou nos consumos, os restantes, a maioria da população, descobre-se insegura, desamparada, desmente, apática, com medo da vida e do futuro, da realidade e da ousadia.
Tudo isto, no fundamental, tem a ver com a forma desfavorável ou favorável onde o indivíduo é chamado a evoluir. Tem a ver com a educação, com a cultura e os hábitos que respiramos.
Mas nós, portugueses, somos assim. Com futebol aos domingos (e não só), feriados que calhem em dia de semana (se possível com ponte) e telenovelas da vida real, temos o português feliz.
Pobre país o meu que, cada vez mais, se vê afastado do resto da Europa ao constatar o aumento das dificuldades daqueles que são os mais desprotegidos, como os trabalhadores que, dia a dia, vêem os seus empregos ameaçados, senão mesmo até perdidos. Para onde e por onde caminhas, Portugal?
Manuel Alberto Morujo
Abril de 2005

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CANTAS BEM MAS NÃO ME ALEGRAS

Mas, será possível isto estar a acontecer num País que está no estado em que está e a  Presidência da República custa 16 milhões de euros por ano, ou seja, mais 163 vezes do que custava com Ramalho Eanes?

Dinheiro que, para além de pagar o salário do senhor Cavaco Silva, sustenta ainda os seus 12 assessores e 24 consultores, bem como o restante pessoal que garante o funcionamento da Presidência da República.
A juntar a estas despesas, há ainda cerca de um milhão de euros do dinheiro dos contribuintes que, todos os anos, serve para pagar pensões e benefícios aos antigos Presidentes.
Os 16 milhões de euros, que são gastos anualmente pela Presidência da República, colocam Cavaco Silva entre os Chefes de Estado que mais gastam em toda a Europa, gastando o dobro do Rei Juan Carlos de Espanha  (oito milhões de euros), sendo apenas ultrapassado  pelo Presidente Francês, Nicolas Sarkozy (112 milhões de euros) e pela Rainha de Inglaterra, Isabel II, que “custa” 46,6 milhões de euros anuais.
E tem o senhor Aníbal Cavaco Silva a desfaçatez de nos vir dizer que:
"os sacrifícios são para ser distribuídos por todos os portugueses".
“Atão tá” bem, ó meu!
 E não se pode privatizar a Presidência da República?
A ser verdade, e se as contas estão bem-feitas, Senhor Presidente vá lá cantar para a sua rua...12 assessores e 24 consultores para o ouvirmos dizer “isto precisa disto e daquilo”, “tenho pena, mas não posso fazer nada”, blá-blá-bá, blá-blá-bá e pronto.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

MATA CÁCERES DEIXA OBRA OU...UM "BICO DE OBRA"?

É sabido que Mata Cáceres pediu (ou foi empurrado a pedir?) a cessação das funções que vinha exercendo no Concelho de Portalegre. O PSD, que desde 2000 o apoiou como independente, vinha demonstrando, aqui e ali em surdina, o inconveniente de o manter até às próximas eleições, em 2013, apesar de já não se poder candidatar.
Mas o que estranho é que, publicamente, apareça tanta gente, e com responsabilidades partidárias, a defender que "O Homem deixa obra feita". Mas, será que não deixa, pelo contrário, "UM BICO DE OBRA?" 
Entretanto, uma coisa é fácil de constatar, no que se refere à não concretização do slogan da candidatura em 2000, "VIVER PORTALEGRE - UM PROJECTO PELO FUTURO DO CONCELHO", o qual se transformou, quanto a mim, num "VIVER EM PORTALEGRE, SEM FUTURO".
Dez anos passados, muitas das promessas fantasiosas, não foram cumpridas. E assim, Portalegre passou umas das piores décadas da sua história recente.
Vejamos alguns dos muitos exemplos que podem justificar as palavras anteriormente  escritas:
a) Em termos populacionais, o Concelho perdeu mais de mil habitantes;
b) Em termos financeiros, depois de ter herdado 900 mil contos (4,5 milhões de €) de saldo positivo, em 2001, abandona o executivo deixando mais de 50 milhões de € (10 milhões de contos) de saldo negativo;
c) Em termos de promessas ilusórias e fantasiosas, foram imensas. Chegou a anunciar a vinda de mais 120 empresas para a Zona Industrial, por ele construída, num processo só possível porque "governava" em maioria;
a construção de: 
uma Pousada no actual Convento de S. Bernardo;
um Campo de Golfe;
um Centro Comercial (São Mamede);
um novo Hospital;
novas Instalações do Centro de Instrução da GNR;
uma Game City que, em 2012, contribuiria para Portalegre ter uma população, de mais de 50 mil habitantes;
d) Embora não totalmente da sua responsabilidade, o facto é que, em 10 anos, cessaram a actividade três unidades fabris, que empregavam centenas de pessoas, tendo chegado a afirmar, quando se candidatou em 2005 que "por mim a Fábrica Fino's já devia ter fechado há dez anos atrás".
Embora pouco se tenha falado disso, gostaria de saber se possível, quais as razões pelas quais não vieram para Portalegre o Fluviário, que foi para Mora e o Call-Center, que foi para Castelo Branco? 
E, já agora, o que ganhou o Concelho de Portalegre, com as comitivas oficiais que se deslocaram ao Canadá, a Marrocos e ao Brasil? Pelos vistos, NADA, a não ser contribuir para o défice que actualmente as contas camarárias apresentam.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

A QUE TIPO DE GENTE ENTREGÁMOS A GESTÃO DO DINHEIRO DOS CONTRIBUINTES?

Passam os dias, os anos e as décadas. Passou um quartel de século e "pergunto ao vento que passa, notícias do meu País e o vento cala a desgraça, o vento nada me diz" como foi possível entregarmos a gestão dos dinheiros públicos, desde 1986 e depois do FMI ter estado em Portugal no período de 1983/85, a "FIGURÕES" que nem qualidades demonstraram para gerir uma mercearia de bairro?
Que responsabilização foi atribuída, com efeitos penalizadores, aos que, durante mais de 25 anos, governaram Portugal praticando uma "gestão danosa", a qual culminou com a vergonha de sermos considerados um PAÍS DE LIXO, que é o mesmo que dizer:
"MATÉRIA OU COISA QUE REPUGNA POR ESTAR SUJA OU QUE SE DEITA FORA POR NÃO TER UTILIDADE, ISTO É, ENTULHO OU PORCARIA?"
PELOS VISTOS... NADA. 
Trova do vento que passa
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
                                              Letra: Manuel Alegre

http://www.jornaldenegocios.pt/statsGen.php?id_autor=158&nrand=9.759995492640884e+21


http://www.jornaldenegocios.pt/statsGen.php?id_autor=158&nrand=9.759995492640884e+21



terça-feira, 5 de julho de 2011

FRASE DA SEMANA (5-11 DE JULHO 2011)


Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a Teu lado,
E apodrecer Contigo à luz dos astros!
CRISTO
José Régio (1901-1969)

Homenagem ao meu antigo Professor Liceal, Dr. José Maria dos Reis Pereira:
Nos poemas de fundo religioso, dos primeiros livros do autor, costuma haver uma identificação entre o eu lírico e a figura de Cristo, ambos irmanados pela dor, pelo sofrimento e pelo sentimento de inadaptação ao mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

E O POVO LÁ VAI CANTANDO E RINDO

Passaram sete anos desde o dia 30 de Junho de 2004, data em que escrevi, e publiquei, mais um artigo de opinião. Face ao que se passou (ou não passou) desde então, entendo oportuno transcrever parte daquele texto:

 E O POVO LÁ VAI CANTANDO E RINDO

"Não uses um canhão para matar um mosquito"
Confúcio (551-479 a. C.)

Na semana passada, num dia como outro qualquer, esta­va postado em frente ao televi­sor e a ver um serviço noticio­so, de um determinado canal te­levisivo. Eis então que surge um comentador, economista de formação e habitual figura tele­visiva. Comentário para aqui, comentário para ali, Governo deposto, Governo reposto, tudo normal em democracia. Mas isso já lá vai. O que importa aqui e ago­ra referir, tem a ver com o co­mentário surgido:
“o facto de haver uma Off Shore na Madeira é motivo para que o Estado não arrecade cerca de mil milhões de euros, por ano, resultante de impostos que não são cobrados.”
Leu bem, caro leitor: a fuga legal a impostos, que é permitida nas “terras jardineiras” representa a sexta parte do orçamento corrente do Ministério da Saúde ou a dívida que este Ministério tem para com a Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Portuguesa).
Segundo ainda o mesmo comentador “os principais beneficiários do esquema são os Bancos e as Seguradoras ou seja, os donos do grande capital”.
Em detrimento da grande maioria do Povo, afirmo eu, o qual, cada vez mais, vê “os meses mais compridos ou, de outra forma, o dinheiro insuficiente para todo o mês.”
Tanta mentira não seria possível num País a sério. E, como este não é um País a sé­rio, "o Povo lá vai cantando e rindo", cada vez mais numa sinfonia de País adiado. E as perspectivas são pouco riso­nhas, como se vai já vendo pelo "andar da carruagem".

sexta-feira, 1 de julho de 2011

OITO ANOS DEPOIS, A MESMA SENSAÇÃO

Depois de ter estado, ontem, cerca de cinco horas a assistir ao debate da apresentação do Programa do Governo, o que voltou a acontecer hoje durante mais duas horas, recordei-me deste texto que escrevi e publiquei em Novembro de 2003. Por, infelizmente, me parecer tão actual, resolvi republicá-lo:

SEM IMAGINAÇÃO
Tomar atenção ao meio em que estamos inseridos, querendo descobrir o sentido das coisas, é trabalhar a imaginação. Confesso, no entanto, que me sinto disperso e, por isso mesmo, sem imaginação. Aliás, o mesmo se deverá passar com a maioria dos meus concidadãos que dificilmente conseguirão imaginar como se poderá sair desta crise profunda que, desde o último ano do século passado, tem, sucessivamente, perturbado, direi mesmo abalado, a sociedade portuguesa. 
No momento imediatamente anterior ao início desta minha crónica, acabei de ler uma notícia que textualmente transcrevo: “ os Portugueses vão perder poder de compra até 2005 “. É óbvio, que esta frase não será novidade para a grande maioria dos Portugueses, visto haver uma minoria muito reduzida, que não será afectada. Efectivamente, dias mais difíceis estão para chegar. Se observarmos, com atenção, não há um sector da vida pública que não se sinta inseguro, ou melhor, que se sinta satisfeito com a situação actual. Aqui e ali vão-se sentindo algumas perturbações e agitação social, que culminarão com grandes manifestações lá mais para o fim do mês. Mas o pior de tudo é que não há alternativa credível para alterar este estado de coisas. Estamos metidos num enredo, que se iniciou em 1986 com a entrada na Comunidade Europeia (hoje União Europeia). Se bem nos recordarmos, durante quinze anos foi gastar à rica, numa primeira fase com a teoria do “oásis”, numa segunda fase com a Expo e, mais recentemente, com os estádios de futebol. O reflexo duma estratégia mal delineada, nos últimos quinze anos, em que foi gastar dinheiros que não eram resultado de mais-valias por nós produzidas, levou à situação actual em que não se consegue reduzir o défice orçamental.

E quanto a nós Portalegrenses para aqui esquecidos neste canto lusitano, “onde só vem quem quiser”? Permitam-me apenas recordar que, nos últimos trinta anos, a cidade de Portalegre perdeu mais de dois mil postos de trabalho, só na indústria. E o que se avizinha, não é de forma alguma muito risonho. Face às circunstâncias, o futuro é mais negro do que o breu se continuarmos a não criar infra-estruturas que permitam a fixação dos nossos jovens, evitando que tenham de procurar outros horizontes "para tratarem da vida". Ainda que indelevelmente, a sociedade Portalegrense vive hoje acomodada. Até se compreende, embora tenha inconvenientes. Senão vejamos:
-os casados têm medo de ver os filhos com fome e desamparados;
-os que optam pela vida fácil das carreiras têm medo de não serem promovidos;
-os que alcançaram uma posição estável e segura têm medo de transformações;
-os que têm prestígio têm medo do advento dum mundo que discuta os fundamentos do seu prestígio;
-os que vivem à custa dos valores que defendem, receiam todos os outros valores.
Não há dúvida de que o medo desempenha assim, na vida dos homens, um papel importantíssimo. Por isso, não há debate, não há ideias. São poucos os que, para além do seu círculo de amigos, se pronunciam. Como se o debate e a confrontação das ideias fosse um tabu. E, assim sendo, o meu País, a minha Cidade, os meus concidadãos estão como eu: sem trabalhar a imaginação, sem descobrir o sentido das coisas.
Manuel Alberto Morujo
(Novembro de 2003)