Portugal quis fazer parte da elite mundial e para isso aderiu à União Europeia (na altura chamava-se Comunidade Económica Europeia). Estávamos em mil novecentos e oitenta e seis. Recebemos ajudas e criou-se uma dinâmica como se se tratasse dum País em vias de desenvolvimento. Aqui e ali pareceu que a nossa mentalidade iria mudar e que deixaríamos de ser o País das baldas, do desleixo, das irresponsabilidades e que passaríamos a ser um Povo mais produtivo, lutador incansável e criando riqueza para ser distribuída com justiça social.
Mas..."a montanha pariu um rato". A realidade está à vista, pondo os Portugueses descrentes, depressivos, sem auto-estima ou referências e valores que possam alterar este estado de coisas.
A verdade é que, passados todos estes anos, as ajudas vão terminar deixando-nos, praticamente, entregue a nós próprios. Em contrapartida, outros Povos mais atractivos, e com valores bem mais homogéneos e consistentes que nós, irão partilhar o nosso território de concorrência e receberão as ajudas idênticas às que nós já recebemos.
A abertura da União Europeia a Leste poderá vir a constituir o nosso maior problema, desde o vinte e cinco de Abril. Portugal, durante este período de apoios, não interiorizou que a produtividade era factor essencial para que pudéssemos ser mais solidários, mais empreendedores, mais trabalhadores, mais eficientes. Em cada sector, em cada actividade, em cada empresa deveria ter estado presente que a "galinha dos ovos de ouro" seria efémera. E isso não aconteceu pois, durante aquele período, faltou uma cultura de responsabilidade consistente e não soubemos interiorizar que a produtividade seria a primeira forma de solidariedade. Houve Portugueses para quem isto era óbvio e Portugueses para quem não o foi, assim como houve Portugueses que estiveram disponíveis e motivados para aquele desafio e Portugueses para quem o desafio era excessivo ou desnecessário. O resultado está à vista: vive-se hoje em Portugal uma verdadeira tensão, uma tensão essencialmente social que atravessa todas as classes e condições. Somos hoje o Povo menos produtivo da União Europeia. Mas, por exemplo, são Portugueses vinte e cinco por cento dos trabalhadores do Luxemburgo, o Povo mais produtivo da Europa!
Mas, o que está mal entre nós pois não alteramos os nossos maus hábitos? Creio, e certamente muitos concordarão comigo, que o que está mal entre nós é o sistema político e, consequentemente, os que entendem dever regular a sua acção segundo as necessidades do momento para chegarem mais facilmente a um resultado tem-porizador, aguardando as circunstâncias oportunas. Chamo a isto OPORTUNISMO. Afirmando-se contrariamente à verdade, que não é o que parece ser. Chamo a isto MENTIRA. Pobre Povo, cuja PÁTRIA é a Língua Portuguesa.
Vamos deixar que isto continue assim, sem corrigir nada? Seremos incapazes de evitar que a História se repita?
Manuel Alberto Morujo
6 de Fevereiro de 2004