sábado, 26 de fevereiro de 2011

O PAÍS NÃO MUDA

“A mentira é como a desgraça: nunca vem só.”
                                         Alexandre Vinet (1797 – 1847)

“O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem, por única direcção, a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O Povo está na miséria. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. O tédio invadiu todas as almas. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado, na sua acção fiscal, como um ladrão e tratado como um inimigo.”
Este era o retrato do País, tal como então o caracterizava Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão nas suas crónicas mensais da política, das letras e dos costumes, através de opúsculos com o título de “As Farpas”. Reinava em Portugal, D. Luís. As lutas entre absolutistas e liberais faziam-se ainda sentir. Os últimos dias da Monarquia aproximavam-se.
     As lutas palacianas, de então, não eram diferentes das vividas hoje. Passados mais de cento e trinta anos, como é possível constatarmos que nada mudou, nada evoluiu, tudo continua como dantes! E com a agravante de nada termos sabido aprender com os acontecimentos vividos e de não termos alterado, em nada, o nosso comportamento.
  É um facto que a história se repete. Que os homens, principalmente os políticos, não aprendem com os erros cometidos pelos seus antepassados. Que a ambição desmedida e o desnorte leva a que alguns se julguem possuidores da verdade, nem que para tal seja necessário fazer baixa política. Mas parece que nada se altera. Passado mais de um século, verificamos, infelizmente, que a situação política, social e económica, não evoluiu. Pelo contrário, marcou passo. E assim, o País definha caindo pelo abismo... e  não se avista o fundo.

Manuel Alberto Morujo
(Distrito de Portalegre, 28 de Janeiro de 2005)

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