Vivemos numa época em que o dinheiro, aliado ao poder que confere, é encarado como sinónimo de qualidade de vida. Em contrapartida, aqueles, que aspiram à concretização de valores não materiais, são olhados de soslaio por esta sociedade massificada, que tudo pretende uniformizar: valores, gostos e comportamentos.
Felizmente que a sociedade de massas, apesar dos esforços que tem despendido, ainda não conseguiu globalizar o pensamento. E, enquanto assim for, o conceito de qualidade de vida, face à subjectividade que encerra, continuará a ser indefinível.
Tenho para mim que a qualidade de vida é, acima de tudo, um conceito social que se vai construindo de acordo com o que recebemos, não só através do meio onde vivemos e que nos rodeia, mas também por outros agentes externos, tais como a comunicação social e a publicidade.
É por isso normal que assistamos ao estrondoso êxito da denominada imprensa “cor-de-rosa” ou ao avassalador número de candidatos a “reality shows”, tipo Big Brother porque, neste modelo civilizacional onde nos movemos, é ideia que só o sucesso conferirá a qualidade de vida a que se aspira. E o protagonismo é o caminho certo.
Vivemos numa sociedade:
onde a publicidade procura comandar os nossos comportamentos e fazer acreditar que, só através do consumo, se poderá atingir o prazer e ter reconhecimento social;
em que há pessoas para quem o padrão de qualidade de vida é definido pela posse de uma parafernália de bens materiais, cuja aferição só será possível se se tiver, ou aparentar ter, um elevado poder aquisitivo;
em que os defensores do consumismo visam obter o prazer e a felicidade materiais, em contrapartida àqueles que enobrecem a defesa de valores não materiais, os quais desejam viver num ambiente saudável com garantia de segurança, como forma de garantir a qualidade de vida.
Aqui há uns tempos, num programa de televisão, uma repórter perguntava a uma simpática cidadã, qual era para ela o bem mais precioso para a fazer feliz. A resposta surgiu de imediato: dinheiro, muito dinheiro.
A repórter, admirada com a resposta pronta da cidadã, voltou à carga: mas não acha que a saúde é mais importante que o dinheiro?
Sem demora a cidadã respondeu: saúde? Para que quero eu a saúde se não tiver dinheiro para a gozar? Venha primeiro o dinheiro, que depois a saúde logo se há-de arranjar.
Esta cena ilustra bem a subjectividade da questão e a dificuldade em encontrar a resposta adequada para definir o que é qualidade de vida.
Todavia, ainda é possível encontrar pessoas que, embora despojadas de bens materiais e com parcos recursos financeiros, afirmam, sem hesitação, que têm UMA BOA QUALIDADE DE VIDA. Estas serão, porventura, mais felizes.
MANUEL ALBERTO MORUJO
(4 de Setembro de 2003)
Excelente texto duma clarividência extraordinária.
ResponderEliminarInfelizmente por questões de segurança relacionadas com o emprego, não me identifico. Mas vou continuar a seguir este espaço e divulgá-lo pelos meus amigos mais próximos.
Continue com a mesma coragem pois a liberdade de expressão muitas vezes paga-se caro.