sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

QUALIDADE DE VIDA, A CADA UM SEU PALADAR


Vivemos numa época em que o dinheiro, aliado ao poder que confere, é encarado como sinónimo de qualidade de vida. Em contrapartida, aqueles, que aspiram à concretização de valores não materiais, são olhados de soslaio por esta sociedade massificada, que tudo pretende uniformizar: valores, gostos e comportamentos.
Felizmente que a sociedade de massas, apesar dos esforços que tem despendido, ainda não conseguiu globalizar o pensamento. E, enquanto assim for, o conceito de qualidade de vida, face à subjectividade que encerra, continuará a ser indefinível.
Tenho para mim que a qualidade de vida é, acima de tudo, um conceito social que se vai construindo de acordo com o que recebemos, não só através do meio onde vivemos e que nos rodeia, mas também por outros agentes externos, tais como a comunicação social e a publicidade.
É por isso normal que assistamos ao estrondoso êxito da denominada imprensa “cor-de-rosa” ou ao avassalador número de candidatos a “reality shows”, tipo Big Brother porque, neste modelo civilizacional onde nos movemos, é ideia que só o sucesso conferirá a qualidade de vida a que se aspira. E o protagonismo é o caminho certo.
Vivemos numa sociedade:
onde a publicidade procura comandar os nossos comportamentos e fazer acreditar que, só através do consumo, se poderá atingir o prazer e ter reconhecimento social;
em que há pessoas para quem o padrão de qualidade de vida é definido pela posse de uma parafernália de bens materiais, cuja aferição só será possível se se tiver, ou aparentar ter, um elevado poder aquisitivo;
em que os defensores do consumismo visam obter o prazer e a felicidade materiais, em contrapartida àqueles que enobrecem a defesa de valores não materiais, os quais desejam viver num ambiente saudável com garantia de segurança, como forma de garantir a qualidade de vida.
Aqui há uns tempos, num programa de televisão, uma repórter perguntava a uma simpática cidadã, qual era para ela o bem mais precioso para a fazer feliz. A resposta surgiu de imediato: dinheiro, muito dinheiro.
A repórter, admirada com a resposta pronta da cidadã, voltou à carga: mas não acha que a saúde é mais importante que o dinheiro?
Sem demora a cidadã respondeu: saúde? Para que quero eu a saúde se não tiver dinheiro para a gozar? Venha primeiro o dinheiro, que depois a saúde logo se há-de arranjar.
Esta cena ilustra bem a subjectividade da questão e a dificuldade em encontrar a resposta adequada para definir o que é qualidade de vida.
Todavia, ainda é possível encontrar pessoas que, embora despojadas de bens materiais e com parcos recursos financeiros, afirmam, sem hesitação, que têm UMA BOA QUALIDADE DE VIDA. Estas serão, porventura, mais felizes.
MANUEL ALBERTO MORUJO

(4 de Setembro de 2003)

1 comentário:

  1. Excelente texto duma clarividência extraordinária.
    Infelizmente por questões de segurança relacionadas com o emprego, não me identifico. Mas vou continuar a seguir este espaço e divulgá-lo pelos meus amigos mais próximos.
    Continue com a mesma coragem pois a liberdade de expressão muitas vezes paga-se caro.

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