Manuel Alberto Morujo
(Publicado no Distrito de Portalegre em 30/07/2004)
Na semana passada, num dia como outro qualquer, estava eu postado em frente ao televisor vendo um serviço noticioso, dum determinado canal televisivo, quando surge um Comentador, economista de formação e habitual figura televisiva. Comentário para aqui, comentário para ali, Governo deposto, Governo reposto, tudo normal em democracia, eis que surge o comentário que desperta a minha atenção:
“o facto de haver uma Offshore na Madeira é motivo para que o Estado não arrecade cerca de mil milhões de euros (duzentos milhões de contos por ano, resultante de impostos que não são cobrados.”
Leu bem, caro leitor. A fuga legal aos impostos, que é permitida nas “terras Jardineiras”, representa a sexta parte do Orçamento do Ministério da Saúde e, continuando neste Ministério, a dívida que actualmente tem para com a Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica).
Posto isto, recordemos o que foi prometido por Durão Barroso – ex-Primeiro-Ministro que “abandonou” o Governo ao cabo de quase dois anos e meio (António Guterres foi só ao fim de seis anos) – na campanha eleitoral de 2002:
- Criar empregos;
- Convergir as pensões mínimas com o salário mínimo nacional;
- Baixar os impostos;
- Rever as isenções de impostos verificadas na Offshore da Madeira.
O resultado, passados dois anos, é o seguinte:
- Quanto à criação de empregos, este não só não diminuiu como foi atingido o valor mais alto de desempregados alguma vez verificado em Portugal, mais de 450.000;
- No referente às pensões, estas estão abaixo do salário mínimo nacional mais de 100€;
- Sobre os impostos, não só não desceram como aumentaram (IVA de 17% para 19%);
- Quanto à última promessa, nada. Referirei apenas o comentário do tal Comentador:
“Os principais beneficiários do “esquema” são os Bancos e as Seguradoras, isto é, os donos do grande capital.”
Acrescento eu, em detrimento da grande maioria do Povo Português que, cada vez mais, vê os “meses compridos e o dinheiro insuficiente”.
Tanta mentira não seria possível num País a sério. E, como este não é um País a sério, “o Povo lá vai cantando e rindo”, cada vez mais numa sinfonia de País adiado. E as perspectivas são pouco risonhas, como se vai vendo “pelo andar da carruagem”.
Post-scriptum: Quase sete anos depois, constata-se, infelizmente, a minha previsão, de que o pior estava para chegar.
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