sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O QUE NOS FEZ CHEGAR AQUI, À CRISE?

Por falta de um cravo, perde-se a ferradura;
Por falta de uma ferradura, perde-se o cavalo;
Por falta de um cavalo, perde-se o cavaleiro;
Por falta de um cavaleiro, perde-se a batalha;
Por falta de uma vitória, perde-se o reino e, tudo isto,
Por causa de um simples cravo.
Benjamim Franklin (1706-1790)

Quiçá estejamos todos a viver um dos períodos mais conturbados da nossa História, o pior na opinião de muitos.
Quando há 38 anos a Revolução dos Cravos nos criou expectativas de uma vida melhor, a inversão da tendência da inclinação do território para o litoral com a já, apesar de ténue, desertificação do interior, a diminuição do enorme fosso entre ricos e muito ricos (poucos apesar de tudo) e pobres (muitíssimos), de nos podermos aproximar dos países desenvolvidos da Europa duma forma progressiva, mas com consistência…“béu-béu-béu pardais ao ninho”, muitos de nós, a maioria certamente, estaria longe de imaginar que o novo século nos iria fazer cair no “Mundo das Trevas”, no abismo sem fundo à vista, desiludidos, com receio do futuro e a começar a fazer lembrar o pós Guerra do racionamento, das doenças, das epidemias.
Cenário pessimista e confrangedor, horroroso e calamitoso, próprio de “Os Velhos do Restelo”, pensarão alguns dos que me lêem. Mas, se meditarmos um pouco, a realidade actual está mais tendendo para o que escrevo, do que para outro caminho.
Muito se tem escrito, se escreve e se continuará a escrever sobre o tema “O que nos fez chegar aqui, à CRISE”, considerando este (ou estes) e aquele (ou aqueles) os grandes culpados – sim, pois há culpados - por termos chegado a este abismo sem fundo à vista, repito.
Na verdade, o edifício da esperança prometido em 25 de Abril foi mal supervisionado pelos “engenheiros” pois utilizaram cal, em vez de cimento, e argila, em vez de tijolos. Desde logo, nos alicerces colocaram arames, em vez de ferro e o tempo, as intempéries, acabaram por fazer ruir o edifício que tão bem tinha sido arquitectado.
Culpados, repito, há muitos. Mas, em meu entender, há um mais do que todos os outros pois governou (?) em “tempo de vacas gordas”, durante dez anos. E já lá vão mais quase sete anos em Belém.
Poderia trazer aqui um sem número de exemplos daquilo que entendo, como cidadão no pleno gozo dos direitos civis e políticos, foi causador, em grande parte, do que hoje estamos a viver.
Vejamos um exemplo:
Em Novembro de 1986 foi criada a Comissão para o Estudo do Sistema Retributivo da Função Pública a qual tinha como principal objectivo “elaborar um Livro Branco sobre os Regimes Remuneratórios praticados na Administração Pública, Central e Local. 
Presidida pelo Prof. António Sousa Franco, integrava ainda os Drs. Nascimento Rodrigues, Isabel Corte Real, Manuela Ferreira Leite e Roberto Carneiro, de entre outros, esta Comissão iniciou funções em 15 de Janeiro de 1987 e, seis meses depois, em 15 de Julho de 1987 entregou o Relatório Sobre o Sistema Retributivo da Função Pública que documentava muito bem o que se praticava em termos de remunerações quer fixas, quer acessórias e suplementos, assim como o número de funcionários que se cifravam em 468.625 no activo (389.191 na Administração Central e 79.434 na Administração Local), para além de 140.000 pensionistas da CGA.
O que veio a seguir, até finais de 1996 pelo menos, foi viver à grande com os dinheiros vindo do exterior. O país era um “oásis”, um exemplo de modernidade com a construção de estradas, viadutos, Universidades e Institutos Politécnicos, edifícios, de raiz para as Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais, Empresas de Formação para ”armazenarem” grande pecúlio, empresas estrangeiras a instalarem-se com dinheiros dos fundos comunitários, criação das cinco CCDR (Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional, Institutos Públicos e Comissões de Acompanhamento e de Estudo, a “torto e a direito” para servir “clientelas” e, o mais grave de tudo, a destruição da Agricultura e das Pescas.
No referente à Administração Pública, os funcionários aumentaram para os quase 700.000, em finais de 1995, e os pensionistas da CGA, para os mais de 270.000.
Mas, apesar do texto ir longo, não posso deixar de referir que, após o Relatório a que anteriormente fiz referência, passaram a ser como “bandos de aves” os Regimes Especiais. Recordo-me de na altura, quando desempenhava funções de responsável pelos Recursos Humanos na ARSP (Administração Regional de Saúde de Portalegre), de só aqui serem OITO.
A saber:
- Pessoal Dirigente (em 3 anos tiveram aumentos a rondar os 100%);
- Médicos;
- Enfermeiros;
- Técnicos Superiores;
- Técnicos Superiores de Saúde:
- Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica;
- Técnicos Sanitários;
- Serviço Social.
E, já agora, não gostaria de terminar sem perguntar: Que culpa teve a grande maioria dos Portugueses que agora tem de pagar as asneiras daqueles que contribuíram para uns poucos se “amanharem”? Que raio de justiça é esta que não incrimina quem tanto mal fez ao País e à maioria dos Portugueses?  



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