sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA


Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a Teu lado,
E apodrecer Contigo à luz dos astros!
José Régio (1901-1969)

Não me levais a mal, caros leitores, de aqui e além diversificar os temas das minhas crónicas. Ao escolhê-los, estou, nem mais nem menos, a exteriorizar os meus sentimentos, ainda que de uma forma abrangente sem querer ser específico no seu tratamento. Creiam, que não sou mais do que um cidadão normal sentindo o pulsar da sociedade em função dos conhecimentos e experiências adquiridas. E a maioria das vezes aproximando-me daquilo que muitos sentem e sabem, os quais, por este ou por aquele motivo, não estão interessados em se exporem o que, para além de ser mais cómodo e politicamente correcto, sempre permite seguir o seu caminho, qual bóia de cortiça ao sabor das marés. 
A abordagem, que entendo dar aos meus escritos, resulta daquilo que é a minha visão com sentido de verdade, com ética e deontologia.
Não é decorrido ainda um mês, encontrei-me com um amigo de há mais de quarenta anos, que desempenha um alto cargo na estrutura empresarial em Portugal. Conhecedor da situação económica, financeira e social do País, como poucos, mostrou-se céptico quanto ao futuro. Com o investimento estrangeiro a diminuir, com a taxa de desemprego a aumentar (actualmente em quase 7%, 10% dos quais possuem curso superior), com as empresas multi-nacionais a deslocarem-se para os novos Países da União Europeia (são dez os que entrarão, oficialmente, no próximo dia 1 de Maio), com as importações a aumentarem (só com a Espanha o aumento, em 2003, foi mais de um milhão de euros) e a economia portuguesa com a síndrome do cumprimento da meta do défice (com os “truques” conhecidos), Portugal deixou de ser o País que “estava na moda”, no tempo do Professor Cavaco, para o País “adiado” em que actualmente vivemos.
É evidente que a conjuntura internacional, não é favorável. Mas também, se por um lado a produtividade é inferior ao desejado, por outro lado os gestores e administradores também não são dos melhores. E, com tudo isto, o País fica mais pobre. O P.I.B. foi negativo (- 0,8 % em 2003) e a maioria da população vive hoje pior do que vivia há dois anos. O fosso entre os ricos e pobres avoluma-se e os direitos sociais são postos em causa, tanto na função pública como na actividade privada. Aliás, situação idêntica se vai verificando um pouco por toda a Europa, cujas consequências foram já visíveis na Espanha e na Grécia e, mais recentemente, em França. 
Mas o que constato é que, embora importantes em democracia, as mudanças de Governo não mudam o essencial: a forma de fazer política e de governar mais séria com os princípios enunciados. Governar, não em função duma minoria que determina o rumo a seguir (lobies económicos), mas em função da maioria (população activa e dependente dos postos de trabalho).
Já referi, anteriormente, que o País tem um saldo negativo na balança comercial (importa mais do que exporta). E o facto, também já referido, da nossa produtividade ser baixa comparativamente com outros países com quem competimos. O que nos faz pensar, com grande preocupação, que a entrada dos novos dez Países trará ainda mais problemas na medida em que, nos quase dezoito anos que levamos integrados na União Europeia, não soubemos aproveitar os recursos postos à nossa disponibilidade. 
As previsões dos 10 novos Países da U. E. são de crescimento do P.I.B. (que vai desde +1,3% na Polónia até +6,7% na Lituânia), da diminuição do desemprego (à custa de algumas empresas multi-nacionais, que se deslocaram para esses países, para beneficiarem dos fundos estruturais, tal como fizeram em relação a Portugal em 1986) e do aumento das exportações. E não nos podemos esquecer que os novos dez Países estão situados mais perto dos nossos tradicionais importadores, como são os Países da Europa Central onde, provavelmente, serão colocados os mesmos produtos que até aqui exportávamos, com custos inferiores, nomeadamente, em transportes.
E, neste País à beira-mar plantado, continuamos, cada vez mais a investir, a concentrar a riqueza e a população no litoral (prevê-se em 2025 que 85% da população portuguesa esteja situada junto à costa), deixando o interior a caminho da desertificação (a agricultura definha) e nada se faz, senão promessas e intenções para inverter a situação. 
Vamos de mal a pior. E ninguém parece interessado em inverter esta tendência. 

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