sábado, 20 de abril de 2013

"TELEVISÃO REALIDADE"


“O tolo possui uma grande vantagem: está sempre contente consigo mesmo”
Napoleão Bonaparte (1808 – 1873)

Hoje em dia, quando a maioria das pessoas fala de televisão, o assunto principal é “A Realidade”. A curiosidade dos telespectadores já não é acerca de quem é o pai da personagem principal da novela, já não se fala do tema do “talk show” de ontem ou das piadas mais cómicas. Em vez disso, fala-se de quem foi expulso pelo público ou de quem tem maior popularidade. Estou a referir-me, como é óbvio, à saga actual que são os reality show os quais tomaram conta das audiências, a par do futebol. O reality show corresponde a uma tendência da televisão com condições para perdurar no actual contexto dos média. Corresponde a uma forma de activar as audiências, em forma de assuntos fúteis e ligeiros, fazendo as delícias de quem tem de programar todos os dias. Explora, ainda, a expectativa das pessoas comuns de poderem vir a ser figuras públicas.
Mas o mais curioso é que a “televisão realidade” é manifestamente irreal. Há uma tensão entre a manipulação da produção e os comportamentos e estratégias dos concorrentes, o que não invalida que haja coisas imprevistas no programa. Na verdade, os editores e produtores sentam-se durante horas e horas a visionar cassetes, a tecer fios da rede de intrigas e a procurar situações para explorar. A edição estrutura e apura o drama no sentido de explorar a resposta emocional dos telespectadores face aos acontecimentos.
Habituámo-nos a ter duas formas de contar histórias: a comédia e o drama. Acaba por ser como no futebol. Neste, utiliza-se um campo, escolhem-se os jogadores, explicam-se os objectivos e as regras e depois liga-se a câmara para ver o que acontece. Com o reality show é a mesma coisa: escolhe-se o local e os participantes, dá-se-lhes as regras e depois observa-se o seu comportamento.
Há um outro aspecto que me parece bastante evidente como é o facto destes programas exercerem uma influência na opinião pública, promovendo valores e um certo imaginário. Isto consiste numa característica intrínseca deste poderoso meio de comunicação de massas. O facto de as pessoas se exporem por dinheiro, de aceitarem fazer coisas repugnantes, em troca de prémio, promove um certo ideário que corresponde à prevalência do dinheiro e do consumismo. A curiosidade sobre a vida alheia é uma faceta sempre presente na vida em sociedade. Mas, ao surgir na televisão, atinge outro significado. Não é o mesmo que algumas pessoas se encontrarem à volta do tanque público para lavar roupa suja e coscuvilharem sobre um determinado contexto. Todavia, se isso é feito para todo o País, em directo e horário nobre, a coisa é diferente. Há algo mais profundo do que bisbilhotice. Quando se fala em reality show pensa-se em espectáculo, em entretenimento, em jogo, sendo que alguns centram-se na exploração da vida privada. Mas nem tudo é negativo. Uma componente interessante é a denúncia dos problemas do quotidiano, dos problemas de certos grupos sociais, de certas pessoas que vivem situações difíceis, que não encontram solução, e que o reality show projecta publicamente. Mas, no fundo, o que as pessoas querem ver é quem vai ganhar, quem vai perder e as estratégias dos concorrentes. Para muitos, não se trata senão de um concurso, muitas vezes de mau gosto e pouco lúdico. Mas o povo gosta e a televisão oferece. É a consequência lógica da tirania da consciencialização das massas, da globalização do pensamento único, da necessidade de criar emoções e alimentar o consumismo televisivo, em que os “actores” perdem todo o pudor para exporem os seus sentimentos.

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