sexta-feira, 14 de junho de 2013

UM POVO QUE NÃO "SE VAI DA LEI DA MORTE LIBERTANDO"


Quem não lê, não quer sa­ber. Quem não quer saber, quer errar.
Padre António Vieira (1608-1697)

Dou por mim com veia filo­sófica (sem o ser ou pretender vir a sê-lo) e com uma atitude de espírito que se desenvolveu com as noções e experiências adquiridas.

As opiniões, que tenho vindo a emitir, resultam da reflexão sobre factos e actos que observo, e constato com alguma preocupação, não só por ter tempo mas também por procurar a verdade, sem contudo a que­rer possuir.

As características essenciais para definir um Povo, uma Sociedade, são, para além de outras, a CULTURA e a EDUCAÇÃO. Estas transmitem-se - ou deveriam transmitir-se - de geração em geração e orientadas no sentido de modificar o comportamento da pessoa humana, instruindo e ENSINANDO.

Tenho para mim que um Povo sem memória é um Povo sem história. E um Povo sem história, não é Povo.

As ocorrências recentes, neste pedaço de terra que D. Afonso Henriques nos legou, são a evidência de que não se aprendeu ao longo dos anos com os erros cometidos. E, embora nunca seja tarde para aprender, certo é que, porven­tura, já é tarde para modificar hábitos, atitudes e comporta­mentos. E, por isso mesmo, estamos na cauda da Europa dos ainda quinze. Vejamos, como exemplo, o que se passa no ENSINO:

É um verdadeiro escânda­lo que em Portugal pouco mais de 9% da população ac­tiva tenha formação univer­sitária, contra os quase 15% da média da U.E. Creio ser ainda mais grave que pouco se tenha alterado a situação com a constatação de  termos passado de uma população de 30.000 es­tudantes no ensino superior, em meados dos anos sessen­ta, para os mais de 400.000, no ano passado. Perante estes dados, questiono qual terá sido a razão pela qual, em quatro décadas, tenha aumenta­do o número de estudantes e o aproveitamento tenha sido nega­tivo? Quanto custa ao erário público a formação, ou melhor, a não formação de quadros im­portantes para o desenvolvi­mento do País? E, mesmo as­sim, como é possível que quase 10% dos actuais de­sempregados sejam licencia­dos? Quem é responsável por haver alunos com média de 18 valores que, para se licenciarem em medicina, tenham de ir para Espanha, quando em Portugal, para os serviços de saúde funciona­rem, é necessário "importar" mé­dicos espanhóis? 
O ensino não vai bem por estas terras lusitanas. E será que alguma vez esteve bem? Os culpados serão sempre os governantes? E os alunos, os professores e os pais, não são eles também os protagonistas em todo este processo? Creio, por isso, que deveríamos estar todos preocupados pois um dia, relegada que seja a nossa história - o que já este­ve mais longe de acontecer - pouco nos resta. Não sendo invertida a situação, estamos longe de criar as condições que orgulhem tanto as gera­ções actuais, como as vindouras. Chegámos a este ponto pois, como é hábito, "deixámos caminhar as coisas ao sa­bor dos acontecimentos, ao sabor das marés". Os perigos são cada vez mais eminentes, os aconteci­mentos recentes não nos permitem so­nhar tendo em conta que o centro da Europa se afasta mais de nós, em direcção ao oriente. Este é, sem dúvida, o resultado por, ao longo destes últimos anos, ter­mos descurado o ENSINO, a CULTURA e no fundo a EDU­CAÇÃO de um POVO que
di­ficilmente " se vai da lei da morte libertando".
(Janeiro de 2004)   

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