Quem não lê, não quer saber. Quem não quer saber, quer errar.
Padre António Vieira (1608-1697)
Dou
por mim com veia filosófica (sem o ser ou pretender vir a sê-lo) e com uma atitude de espírito que se desenvolveu com as noções e experiências adquiridas.
As
opiniões, que tenho vindo
a emitir, resultam da reflexão
sobre factos e actos que observo, e constato com alguma preocupação, não só por ter tempo mas também por procurar a verdade,
sem contudo a querer possuir.
As características
essenciais para definir um Povo, uma Sociedade, são, para além de outras, a CULTURA e a EDUCAÇÃO.
Estas transmitem-se - ou deveriam
transmitir-se - de geração em
geração e orientadas no sentido
de modificar o comportamento da
pessoa humana, instruindo e ENSINANDO.
Tenho para mim que um Povo sem memória é um Povo sem história. E um Povo sem história,
não é Povo.
As
ocorrências recentes, neste
pedaço de terra que D. Afonso
Henriques nos legou, são a evidência de que não se aprendeu ao longo dos anos com os
erros cometidos. E, embora
nunca seja tarde para aprender,
certo é que, porventura, já é tarde para modificar hábitos, atitudes e comportamentos.
E, por isso mesmo, estamos na cauda da Europa dos
ainda quinze. Vejamos, como exemplo, o que se
passa no ENSINO:
É um
verdadeiro escândalo que em Portugal pouco mais de 9% da população activa
tenha formação universitária, contra os quase 15% da média da U.E. Creio ser ainda mais grave que pouco
se tenha alterado a situação com a constatação de termos passado de uma população de 30.000 estudantes no ensino superior, em meados dos anos sessenta,
para os mais de 400.000, no ano passado. Perante estes dados, questiono qual terá sido a
razão pela qual, em quatro décadas, tenha
aumentado o número de estudantes e o aproveitamento tenha sido negativo?
Quanto custa ao erário público a formação, ou melhor, a não formação de quadros importantes
para o desenvolvimento do País? E,
mesmo assim, como é possível que quase 10% dos actuais desempregados sejam licenciados? Quem
é responsável por haver alunos com média de 18 valores que, para se licenciarem em medicina, tenham de ir para Espanha, quando em Portugal, para os serviços de saúde funcionarem,
é necessário "importar" médicos
espanhóis?
O ensino não vai bem por estas
terras lusitanas. E será que alguma vez esteve bem? Os culpados serão sempre os governantes? E os alunos, os
professores e os pais, não são eles também os protagonistas em todo este processo? Creio, por isso, que deveríamos estar
todos preocupados pois um dia, relegada que seja a nossa história - o que já
esteve mais longe de acontecer - pouco
nos resta. Não sendo invertida a situação, estamos longe de criar as condições
que orgulhem tanto as gerações
actuais, como as vindouras. Chegámos a
este ponto pois, como é hábito, "deixámos caminhar as coisas ao sabor dos acontecimentos, ao sabor das marés". Os perigos são cada vez mais eminentes, os acontecimentos recentes não nos permitem sonhar tendo em
conta que o centro da Europa se afasta mais de nós, em direcção ao oriente. Este é, sem dúvida, o resultado por, ao longo
destes últimos anos, termos descurado o ENSINO,
a CULTURA e no fundo a EDUCAÇÃO de um POVO quedificilmente " se vai da lei da morte libertando".
(Janeiro de 2004)
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