terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

POLIS - Portalegre Opaco, Letárgico, Imerso e Solitário

“Querer, é quase sempre poder. O que é excessivamente raro é o querer.”
Alexandre Herculano (1810-1877)        


Lagóias e estrangeiros, gente Portalegrense, acordai e levantai-vos contra a miscelânea de atitudes, atropelos, incorrecções e prepotências com que todos os governos deste  País, desde a entrada na União Europeia, têm ostracizado e excomungado esta pobre gente humilde e trabalhadora que, por infortúnio do destino, vive na zona mais periférica da Pátria Lusitana, senão ultra-periférica em relação à Europa dos Quinze.
Quantos de vós não se sentirão enganados e vítimas das promessas e falsidades que, ao longo dos anos, foram formuladas por todos os candidatos à chefia do Governo quando por aqui passaram em campanha eleitoral, ao prometerem que Portalegre não seria esquecida e deixaria de ser uma zona periférica, o desenvolvimento teria que acontecer, as assimetrias entre o interior e o litoral seriam combatidas e seriam criadas as condições para aumentar o investimento e, consequentemente, os postos de trabalho... "béu, béu, béu, pardais ao ninho" e... é o que se vê. 
De vez em quando passa por aqui um governante, dá umas voltas e mostra-se-lhe umas coisas. Ficam umas promessas e elogia a gastronomia,  leva uns queijos, chouriços, vinhos e, quando não, uma tapeçaria, até umas boleimas para a sobremesa e ala, vai-se daqui pregar para outra freguesia com o mesmo discurso... mas que lhe dá mais votos.  Pois, porque esta coisa da aposta no desenvolvimento faz-se onde dá mais votos, onde há mais pessoas, onde se podem gastar mais milhões para se ter o retorno do investimento e a manutenção do "status quo" num ritmo alucinante do vira agora vens para cá tu, depois viras tu e vou para lá eu. Intérpretes, deste baile mandado são... quem adivinha? Acertou, caro leitor: o Partido Social - Democrata e o Partido Socialista.
Chegado aqui, já sei que alguns comentarão: este escriba está ressabiado. E tem razão quem assim pensa. Sinto-me desgostoso, melindrado, ofendido.
Fui dos primeiros, há alguns anos, a defender publicamente a importância dum Lóbi para "forçar" uma estratégia para o desenvolvimento local. Consegui, embora não sozinho, mobilizar as forças vivas da cidade para uma reunião que foi um marco na junção de representantes do poder político, das associações patronais e sindicais, das autarquias e até do Governador Civil. Aí se esboçou um Lóbi que devia servir para ser a voz dos mais desprotegidos. Este Grupo chegou mesmo a ser recebido pelo então Ministro das Obras Públicas, Jorge Coelho, a quem se apresentaram as razões da nossa reivindicação e o facto de Portalegre ser a única capital de Distrito por onde não passava, nem passa, nenhum comboio inter-cidades. Já lá vão quatro anos e, desse Lóbi que se foi evaporando...nada resta.
E porquê voltar a este tema? Simplesmente porque, no fim-de-semana passado, a cimeira entre os Primeiros- Ministros Ibéricos determinou quais as quatro ligações de Portugal a Espanha por T.G.V. E nós, lagóias, uma vez mais ficamos a cinquenta quilómetros do progresso. Não bastou a auto-estrada Lisboa - Elvas, do Professor Cavaco, fazer uma barriga por Évora também agora o T.G.V., do Doutor Durão, fará uma barriga por aquela cidade, com a agravante de se gastar mais uns milhões para uma nova ponte sobre o Tejo. Isto é: não há dinheiro, o País está de "tanga" ou melhor, "nu" e opta-se por fazer a ligação Lisboa – Madrid, não pela via mais rápida e mais económica - como a que existe há tantas décadas com a ligação via Castelo de Vide, Cáceres – mas cedendo aos grandes Lóbis. E, vai daí, constrói-se mais uma Ponte sobre o Tejo, em Lisboa, vai-se até ao Montijo, faz-se um desvio por Évora, vai-se até Badajoz, Mérida e Cáceres e lá se segue até Madrid. Mas a pergunta que deixo é esta: então o T.G.V. é um transporte ferroviário para fazer um determinado percurso no mais curto espaço de tempo ou é para satisfazer interesses em função dos Lóbis existentes? Afinal é ou não uma infra-estrutura que fomenta o desenvolvimento? E, se houvesse uma melhor e mais adequada distribuição das verbas, então seria ou não possível que a diferença de custos fosse aplicada em investimentos nas áreas mais isoladas e periféricas? E que dirão sobre isto os dignos representantes dos Lagóias? Aos costumes dizem nada.
Isolados das grandes vias rodoviárias, e ferroviárias, com o aumento do desemprego, com a diminuição de postos de trabalho, para onde caminhamos, senão para o POLIS - Portalegre Opaco, Letárgico, Imerso e Solitário.
MANUEL MORUJO
DISTRITO DE PORTALEGRE (14.NOV. 2003)

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