sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

POR E PARA ONDE CAMINHAM OS PORTUGUESES

“Para falar ao vento bastam palavras. Para falar ao coração são necessárias obras”.
Padre António Vieira (1608-1697)

Só o humano possui a capacidade de inventar tudo acerca do mundo e acerca de si próprio, para se perspectivar como humano e, consequentemente, agir como tal. Efectivamente, numa sociedade em permanente e acelerada mutação, como é aquela em que vivemos, cada vez faz mais sentido mudar, inovar. Temos de mudar é dito por políticos e governantes, educadores e cientistas, jovens e pais, dirigentes e professores, empresários e gestores. No entanto, são palavras vãs que a realidade confirma. Na verdade, o desinteresse, a impotência e a ignorância são forças negativas que impedem ou dificultam a abertura à mudança, a qual passa, fundamentalmente, pela criatividade. Se é certo que todos nós possuímos talentos criativos, que tal como as aptidões físicas e intelectuais podem ser treinados e desenvolvidos, não deixa de ser também certo que a sua manifestação varia de pessoa para pessoa, dependendo bastante do contexto sócio-cultural em que nasce, cresce e vive.
Mas a realidade é bem diferente. A mudança de hábitos e atitudes não acontece. E por isso, o POVO PORTUGUÊS tornou-se, quer na euforia quer na depressão, um POVO DOENTE. É fácil constatar que cada vez há mais portugueses a refugiarem-se no soporífero (televisão e futebol), no excitável (voyarismo e erotismo), no sobrenatural (seitas e astrologia) e na evasão (modas e drogas), recusando-se a pensar, a conhecer e a intervir. Mais: a reflexão intelectual fez-se um desperdício, a competência profissional um supérfluo, a honradez pessoal uma inconveniência, a dignidade cívica uma velharia. Não provocar ondas impõe-se uma divisa. É-se apreciado pelo que se diz, não pelo que se faz. É-se retribuído pelo que se exibe, não pelo que se aprofunda.
E, chegados aqui e agora a este estado de coisas, é minha convicção que isto só se alterará quando cada um de nós deixar de ser um mero espectador passivo do teatro levado a cabo por actores que fazem da política a arte de mentir tão mal, pensando que só poderão ser desmentidos por outros políticos. Excluindo aqueles que aqui e ali vão denunciando e destapando os males da actual sociedade (de que é exemplo alguma, pouca, comunicação social) o facto é que, tirando alguns grupos instalados no regime, nas instituições, nos privilégios ou nos consumos, os restantes, a maioria da população, descobre-se insegura, desamparada, desmente, apática, com medo da vida e do futuro, da realidade e da ousadia.
Tudo isto, no fundamental, tem a ver com a forma desfavorável ou favorável onde o indivíduo é chamado a evoluir. Tem a ver com a EDUCAÇÃO, a CULTURA e os HÁBITOS que respiramos.
Mas nós, portugueses, somos assim. Com três batatas no prato (quando as há), futebol aos domingos (e não só), feriados que calhem em dia de semana (se possível com ponte) e telenovelas da vida real, temos o português feliz.
Pobre país o meu que, cada vez mais, se vê afastado do resto da Europa, mostrando sinais de riqueza exteriores (como a construção dos estádios de futebol), mas aumentando as dificuldades daqueles que são os mais desprotegidos, como os trabalhadores que, dia a dia, vêem os seus empregos ameaçados, senão mesmo até perdidos. Por onde e para onde caminhas, Portugal?
Manuel Alberto Morujo
(21 de Outubro de 2003)

1 comentário: