domingo, 20 de fevereiro de 2011

QUANDO PORTALEGRE ERA UMA CIDADE E...CAPITAL DE DISTRITO

       PLÁTANO DO ROSSIO, EM PORTALEGRE, NO INÍCIO DOS ANOS 60

Nos anos sessenta, Portalegre era uma cidade com gente e com vida. Não só por ser a Capital de Distrito, e nela estarem os serviços da Administração Pública, mas também pelo facto de haver cerca de cinco mil postos de trabalho ligados à indústria (Robinson Brothers, Fábrica de Lanifícios e Manufactura de Tapeçarias) e um comércio que florescia graças aos quase trinta mil habitantes nela residentes. A Rua do Comércio, assim como a Rua 5 de Outubro, era um verdadeiro Centro Comercial onde as várias vertentes comerciais estavam disponíveis, para além das tradicionais "Tascas", Cafés e o Banco Nacional Ultramarino. Por ali circulava a maioria da população, quer em compras quer em passeio, ou para a deslocação para o trabalho. Aqui e ali surgia a ronda, pedestre, da PSP, cuja presença era suficiente para dissuadir qualquer tentativa menos legal e também a GNR que, numa manifestação de força e autoridade, levava um qualquer embriagado, que provocara distúrbios, ou alguém que se tinha apoderado do alheio. Os estudantes, principalmente os do Liceu com os seus trajes de Capa e Batina, davam uma ar de jovialidade à cidade, nomeadamente junto ao Café Alentejano e ao Café Central que, alternadamente, era considerado o Café dos Estudantes, onde jogavam bilhar e outros jogos de tabuleiro, estudavam ou "finjiam" estudar, mas sempre com o "olho a postos" para verem passar uma colega ou aquela "cara laroca", da qual andavam "atrás". Os Domingos, esses sim verdadeiros dias de descanso e passeio, onde não faltava a Missa Dominical quer na Sé, quer em São Lourenço, eram aproveitados para os estudantes irem ao "santo sacrifício da missa" para verem as namoradas, com uma "saíta" mais arrojada, acompanhadas das Mães ou outras familiares que se vestiam para uma autêntica "passagem de modelos" com o pó de arroz e o ruge no rosto, para esconder uma ou outra ruga - ou noite mal passada - e os lábios pintados com batom avermelhado, tipo Marilyn Monroe, as quais faziam as delícias dos muitos observadores que se colocavam às portas dos Cafés, a engraxar os sapatos, para as verem passar. Também ponto de ordem para os Estudantes era seguirem as "meninas do Colégio, que, duas a duas, com Freiras à frente e atrás da "coluna", impediam um ou outro mais ousado que queria entregar um "bilhetinho" à sua "querida". 
Já de noite, o Crisfal enchia-se de gente para ver o filme esperado...há muito. Chegado o intervalo, o cheiro a Tabu e Madeiras do Oriente, delas, misturava-se com o Lavanda e o Old Spice, deles, no hall onde se circulava ou se faziam grupos para conversar. E era assim a minha Cidade há décadas. Agora, outros tempos, outras formas de estar e viver...mas que não afastam da memória estas recordações. Coisas de "velhos" para "velhos" e... para todos os outros que um dia também o serão.
(Manuel Morujo)

2 comentários:

  1. Bem vindo seja, e com a certeza de que mais actos de cidadania deste tipo, salvariam a nação portuguesa de muitos dos problemas que sistémicamente a apoquentam! Um abraço

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  2. Forte abraço ao amigo Manuel Morujo!!! Os textos que publicou em tempos idos, na nossa imprensa local, mantêm quase sempre uma (preocupante?) actualidade e pertinência; motivo pelo qual já o tinha desafiado, quando me enviou alguns por mail, a republicá-los.
    Congratulo-me por isso com o nascimento deste seu blogue, que será certamente um espaço de liberdade, de tolerância e de respeito pelas opiniões e ideias de todos os que por aqui forem "passando".
    Certamente que nos iremos continuar a encontrar e a falar, também aqui...

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