quinta-feira, 24 de março de 2011

O INCONTROLÁVEL DÉFICE

(TEXTO PUBLICADO NO DISTRITO DE PORTALEGRE EM 20 DE MAIO DE 2005)

Ao longo das semanas, em que tenho ocupado este espaço, tenho, não poucas vezes, emiti­do opinião sobre o estado das fi­nanças públicas e o seu reflexo na vida de todos nós. Sem ser especialista na matéria, sinto, como a maioria dos meus conci­dadãos, os efeitos da sua exis­tência. Não poucas vezes, che­ga-me aos ouvidos que há leitores que não apreciam o que escre­vo sobre este tema, afirmando, alguns deles, que tenho uma tendência para empolar as ques­tões em função de quem está no Governo. A memória é curta e, naturalmente, só se lembram do mais recente. Mas não é verda­de. Tanto critiquei os governan­tes "rosas" como "laranjas". E certamente com alguma razão, como se veio a comprovar, pos­teriormente.
Volto a este tema por ser no­tícia (se é que alguma vez o dei­xou de ser).
O estado desastroso em que se encontram as finan­ças públicas, principalmente no que ao seu défice diz respeito, é preocupante. Embora não tenha sido divulgado o seu valor mui­tos analistas acreditam que será de 7%, para o corrente ano. Extremamente elevado tendo em conta o estipulado pelo PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) que é de 3%. As consequencias já todos nós co­nhecemos: como os sucessivos governos não conseguem ou não querem enfrentar as despesas do sector público, aplicam-se novos impostos e formas mais fáceis e acessíveis de aumentar a recei­ta. Diminuir a despesa é que parece ser uma enorme dificul­dade, uma enormidade.
Permitam-me, caros leitores, recuar aos princípios dos anos setenta, para melhor compreen­dermos a evolução do défice. Até 1973, o Estado ostentava défi­ces muito baixos, inclusive de valores negativos. O País não tinha qualquer desen­volvimento, alimentava uma guerra de três frentes, não ha­via Serviço Nacional de Saúde e as regalias sociais eram diminu­tas. A primeira al­teração verificou-se em 1973 com o aumento das remunera­ções dos funcionários públicos, altura em que foi estipulado um salário mínimo de três contos e trezentos (16,5 euros na moeda actual). A partir dai, foi sempre a subir e em finais de 1975 o défice já atingia os 6%. Até 1988 o défice não baixou, desses va­lores, tendo atingido, em 1987, um valor superior a 10%.
A questão que coloco, depois desta breve resenha, é a seguin­te: por que razões não conse­guem os Governos controlar o défice público? Não é novidade para ninguém que há pelo menos duas fortes razões:
1-      A fuga aos impostos e, consequentemente, a não entrada de recei­tas previsíveis;
2-      As despesas efectuadas pelo poder central e local em obras desnecessári­as - como se de um País rico se tratasse - as quais não produzem qual­quer tipo de produtividade.
Exemplo do que afirmo foram os estádios de futebol e as centenas ou até mesmo milha­res de obras feitas pelas autar­quias, onde se gastaram rios de dinheiro que ajudaram a engros­sar o défice. Basta olhar à nossa volta e confirmar que nem sem­pre o dinheiro é aplicado correc­tamente e, ainda mais grave, com recurso a empréstimos.
Por isso, os próximos tempos vão ser piores. Este Governo, na senda dos anteriores, obriga todos a " apertarem o cinto", se é que ainda há hipótese para tal. O au­mento do IVA para 21 %, assim como o aumen­to dos combustíveis, levará a maioria dos Portugueses a terem dias ainda mais difíceis. Continuamos a ser um País adiado, sem esperança.
Descarada­mente, somos sucessivamente en­ganados e, pelos vistos, ninguém é responsável. Mudam os Governos, mudam os Ministros e tudo conti­nua a piorar. Pobre Portugal, para onde caminhas.

Manuel Alberto Morujo

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