quarta-feira, 23 de março de 2011

A PÁTRIA ESTÁ DOENTE

(TEXTO PUBLICADO, NO DISTRITO DE PORTALEGRE, EM 6 DE FEVEREIRO DE 2004)

     Portugal quis fazer parte da elite mundial e, para isso, ade­riu à União Europeia (na altura chamava-se Comunidade Económica Europeia). Estáva­mos em mil novecentos e oiten­ta e seis. Recebemos ajudas e criou-se uma dinâmica como se tratasse dum País em vias de desenvolvimento. Aqui e além, pareceu que a nossa mentalidade iria mudar e que deixaríamos de ser o País das baldas, do desleixo e das irres-ponsabilidades. Que passaría­mos a ser um Povo mais pro­dutivo e lutadores incansáveis, criando riqueza para ser dis­tribuída com justiça social. Mas... "a montanha pariu um rato". A realidade aí está, pon­do os portugueses descrentes, depressivos, sem auto-estima, sem referências, sem valores que possam alterar este estado de coisas.
A verdade é que, passados todos estes anos, as ajudas vão terminar, deixando-nos, prati­camente, entregues a nós pró­prios. Em contrapartida outros Povos, mais atractivos e com valores bem mais homogéneos e consistentes que nós, irão partilhar o nosso território de concorrência e receber as ajudas que nós já recebemos. A abertura da União Europeia a Leste poderá assim vir a constituir o nosso maior problema, desde o vinte e cinco de Abril. Portu­gal, durante este período de apoios, não interiorizou que a produtividade era factor essencial para que pudésse­mos ser mais solidários, mais empreendedores, mais traba­lhadores, mais eficientes. Em cada sector, em cada activida­de, em cada empresa deveria ter estado presente que, a "ga­linha dos ovos de ouro", seria efémera. E, sendo assim, du­rante aquele período faltou uma cultura de responsabilida­de consistente e não soubemos interiorizar que a produtivida­de é a primeira forma de solidariedade. Houve Portugueses, para quem isto era óbvio e Por­tugueses, para quem não o era, assim como houve Portugue­ses, que estavam disponíveis e motivados para aquele desafio e Portugueses, para quem o desafio era excessivo ou desne­cessário. Por isso, vive-se hoje em Portugal uma verdadeira tensão, uma tensão essencial­mente social que atravessa to­das as classes e condições. So­mos hoje o Povo menos pro­dutivo da União Europeia. Mas por exemplo, são Portugueses vinte e cinco por cento dos trabalhadores do Luxemburgo, o Povo mais produtivo da Eu­ropa!
 Mas o que está mal entre nós pois não alteramos os nos­sos maus hábitos? Creio, e cer­tamente muitos concordarão comigo, que o que está mal en­tre nós é o sistema político e, consequentemente, os que en­tendem dever regular a sua ac­ção segundo as necessidades do momento, para chegarem mais facilmente a um resultado tem­porizador, aguardando as cir­cunstâncias oportunas. Chamo a isto OPORTUNISMO. Afir­mando-se contrariamente à verdade, que não é o que parece ser. Chamo a isto MENTIRA.
Pobre Povo, cuja PÁTRIA é a Língua Portuguesa.
Vamos deixar que isto continue assim, sem corrigir nada? Seremos incapazes de evitar que a História se repita? Escrevia há dias o Professor Freitas do Amaral: “Basta. Da última vez que em Portugal se viveu uma situação semelhante a esta, houve um General (Óscar Carmona) que declarou, publicamente, que a Pátria está doente”.
Passado pouco tempo, che­gou o 28 de Maio de 1926. Como se sabe, o País ficou do­ente durante quarenta e oito anos. Passados mais trinta, será que ainda paira o seu fan­tasma entre nós? Por aí anda alguém, com saudades desse tempo. E, se continuarmos de­satentos, a História repetir-se-á. Não é demais prestarmos atenção às gotas de água suja.

Manuel Alberto Morujo

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