A crise chegou. Aquilo que há tantos anos se anunciava e cujos sintomas eram mais ou menos ignorados, indicava-nos a sua proximidade. Mas, as respeitáveis e proeminentes figuras do Estado, foram impotentes para travar o seu avanço e não “conseguiram” suster a cobiça dos que só vêem o seu interesse pessoal e o poder, privilegiando as suas conquistas em detrimento do interesse colectivo.
Fazer omeletas com ovos, não é notícia. Esta sê-la-á, no dia em que aquelas se conseguirem fazer sem os ditos.
A história dos últimos trinta anos tem sido um carpir constante do que os antecessores não fizeram, ou melhor, fizeram para levar o País a este estado de coisas. Senão, vejamos:
Logo após o vinte e cinco de Abril, não houve político ou Governo Provisório que não acusasse o anterior regime de todo o mal existente. Com muita razão, mas não toda. Veio depois o 1º Governo Constitucional e logo se acreditou que o discurso poderia mudar. Qual quê! A culpa era dos Governos Provisórios. Seguiu-se o Governo da Aliança Democrática o qual não tardou a acusar o Governo anterior de nada ter feito de positivo. Por volta de 1982 tomou posse o Governo do Bloco Central. Este lá voltou a acusar o seu antecessor. Com a chegada do F.M.I., em 1983, lá se equilibraram(?) as Finanças Públicas, na sequência de uma crise idêntica a esta que, passados vinte anos, ainda estamos a viver. Começou-se então a preparar a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE). Mas em 1985 surgiu o Governo do Professor Cavaco que, apesar de mais uma vez ter acusado o seu antecessor da herança recebida, permitiu e contribuiu para que durante dez anos “vivêssemos no oásis", gastando o que não era nosso, desenvolvendo o litoral e esquecendo-se do interior. Eis-nos chegados a 1995, ao Governo do Engenheiro Guterres. Surpresa das surpresas: é acusado o Governo anterior de ter deixado o País, num estado lastimoso de finanças. Embora sendo verdade, pois o défice era nessa altura de cerca de 6%, não se deixou de viver num período de "vacas gordas". Quando o Professor Cavaco se foi embora deixou a Expo ao Engenheiro Guterres e este preparou o Euro 2004 para o Doutor Barroso, o qual acaba por afirmar que recebeu "um País de tanga". Como se pode constatar, a culpa foi sempre de quem foi precedido no Governo. Mas, francamente, quando é que isto terá fim e se respeita melhor o POVO DO MEU PAÍS?
Se estivermos atentos, o actual Primeiro-Ministro, Doutor Barroso, não deixou de nos transmitir desde há dois ou três meses que, "já se vê a luz ao fundo do túnel" da recuperação económica. Mas esta semana teve o "cuidado" de nos informar que "ela vai aumentar de visibilidade, muito vagarosamente". É evidente que a hipocrisia foi e é uma constante. Para o comprovar, basta olhar em volta para se constatar que nada vai acontecer de positivo nos próximos tempos. O défice orçamental, à volta de 3%, só foi e é conseguido graças à venda de património. O produto interno bruto e a procura interna, desde o primeiro trimestre de 2002, têm sido negativos, situando-se, nesta data, em -0,9% e -1,5%, respectivamente. Por isso, a notícia continua a ser a mesma: não se fazem omeletas sem ovos.
E, sucessivamente, desde o "viver no oásis", passando pelas "vacas gordas" até a um "um País de tanga", para mais tarde "já se vê a luz ao fundo do túnel" e, actualmente, a alertarem-nos que "ela vai aumentar de visibilidade, muito vagarosamente", que futuro pode esperar o POVO quando, a propósito do EURO 2004, o Governo dá milhões e milhões de euros a clubes para construírem estádios de futebol, provenientes de impostos cobrados aos contribuintes, ao mesmo tempo que as Câmaras Municipais estão quase todas endividadas? Como podem os Portalegrenses, parentes pobres deste rectângulo à beira-mar plantado, continuarem a ver as infra-estruturas a fugirem para Norte, para o Sul e para Poente, onde se gastam milhões de euros em acessibilidades, parques de estacionamento, etc? Como pode uma parte do País ser "fantasiado de rico", mas cuja realidade é a pobreza na saúde, na solidariedade social, na educação, no encerramento das empresas ou sem dinheiro para pagarem os justos salários aos seus trabalhadores? Como se pode aceitar que não sejam viabilizadas empresas, porque devem milhões aos cofres do Estado e este dá, "de mão beijada", milhões aos clubes para viabilizarem empregos a "trabalhadores" que recebem ordenados chorudos?
E nós por cá todos bem, pois a vida são dois dias... e o Carnaval são três. E não se esqueçam, senhores governantes, que o POVO CÁ VAI GEMENDO, SOFRENDO E...ESPERANDO.
Manuel Alberto Morujo
(Dezembro de 2003)
Manuel Alberto Morujo
(Dezembro de 2003)
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