quarta-feira, 13 de abril de 2011

E O POVO CÁ VAI GEMENDO, SOFRENDO E...ESPERANDO

A crise chegou. Aquilo que há tantos anos se anunciava e cu­jos sintomas eram mais ou menos ignorados, indicava-nos a sua pro­ximidade. Mas, as respeitáveis e proeminentes figu­ras do Estado, foram impotentes para travar o seu avanço e não “conseguiram” suster a cobiça dos que só vêem o seu inte­resse pessoal e o poder, privilegian­do as suas conquistas em detrimento do interesse colectivo.
Fazer omeletas com ovos, não é notícia. Esta sê-la-á, no dia em que aquelas se conseguirem fazer sem os ditos.
A história dos últimos trinta anos tem sido um carpir constante do que os ante­cessores não fizeram, ou melhor, fizeram para levar o País a este estado de coisas. Senão, vejamos:
Logo após o vinte e cinco de Abril, não houve po­lítico ou Governo Pro­visório que não acusasse o an­terior regime de todo o mal exis­tente. Com muita razão, mas não toda. Veio depois o Go­verno Constitucional e logo se acreditou que o discurso poderia mudar. Qual quê! A culpa era dos Governos Provisórios. Seguiu-se o Governo da Aliança Democrá­tica o qual não tardou a acusar o Governo anterior de nada ter fei­to de positivo. Por volta de 1982 tomou posse o Governo do Bloco Cen­tral. Este lá voltou a acusar o seu antecessor. Com a chegada do F.M.I., em 1983, lá se equilibraram(?) as Fi­nanças Públicas, na sequência de uma crise idêntica a esta que, passados vinte anos, ainda esta­mos a viver. Começou-se então a preparar a en­trada na Comunidade Económica Europeia (CEE). Mas em 1985 surgiu o Governo do Professor Cavaco que, apesar de mais uma vez ter acusado o seu antecessor da herança recebida, permitiu e contribuiu para que durante dez anos “vivêssemos no oásis", gastando o que não era nosso, desenvolvendo o litoral e esquecendo-se do interior. Eis-nos chegados a 1995, ao Governo do Engenheiro Guterres. Sur­presa das surpresas: é acusa­do o Governo anterior de ter deixado o País, num estado las­timoso de finanças. Embora sendo verdade, pois o défice era nessa altura de cerca de 6%, não se deixou de viver num período de "vacas gordas". Quando o Professor Cavaco se foi embora deixou a Expo ao Engenheiro Guterres e este preparou o Euro 2004 para o Doutor Barroso, o qual acaba por afirmar que recebeu "um País de tanga". Como se pode constatar, a culpa foi sempre de quem foi precedido no Governo. Mas, francamente, quando é que isto terá fim e se respeita melhor o POVO DO MEU PAÍS?
Se estivermos atentos, o actu­al Primeiro-Ministro, Doutor Barroso, não deixou de nos transmitir desde há dois ou três meses que, "já se vê a luz ao fundo do túnel" da recupera­ção económica. Mas esta sema­na teve o "cuidado" de nos infor­mar que "ela vai aumentar de vi­sibilidade, muito vagarosamen­te". É evidente que a hipocrisia foi e é uma constante. Para o comprovar, basta olhar em volta para se constatar que nada vai acontecer de positivo nos pró­ximos tempos. O défice orçamen­tal, à volta de 3%, só foi e é con­seguido graças à venda de patri­mónio. O produto interno bruto e a procura interna, desde o pri­meiro trimestre de 2002, têm sido negativos, situando-se, nesta data, em -0,9% e -1,5%, res­pectivamente. Por isso, a notícia continua a ser a mesma: não se fazem omeletas sem ovos.
E, sucessivamente, desde o "viver no oásis", passando pelas "vacas gordas" até a um "um País de tanga", para mais tarde "já se vê a luz ao fundo do túnel" e, actualmen­te, a alertarem-nos que "ela vai aumentar de visibilidade, mui­to vagarosamente", que futuro pode esperar o POVO quando, a propósito do EURO 2004, o Gover­no dá milhões e milhões de euros a clubes para construírem está­dios de futebol, provenientes de impostos cobrados aos contribuintes, ao mesmo tempo que as Câmaras Municipais estão quase todas endi­vidadas? Como podem os Portalegrenses, parentes pobres deste rectângulo à beira-mar plantado, continuarem a ver as infra-estruturas a fugirem para Norte, para o Sul e para Poente, onde se gas­tam milhões de euros em acessi­bilidades, parques de estaciona­mento, etc? Como pode uma parte do País ser "fantasiado de rico", mas cuja realidade é a pobreza na saúde, na solidarieda­de social, na educação, no encerramento das em­presas ou sem dinhei­ro para pagarem os justos salá­rios aos seus trabalhadores? Como se pode aceitar que não sejam viabilizadas empresas, por­que devem milhões aos cofres do Estado e este dá, "de mão beija­da", milhões aos clubes para vi­abilizarem empregos a "trabalha­dores" que recebem ordenados chorudos?
E nós por cá todos bem, pois a vida são dois dias... e o Carnaval são três. E não se esqueçam, senhores governantes, que o POVO CÁ VAI GEMENDO, SO­FRENDO E...ESPERANDO.
Manuel Alberto Morujo
(Dezembro de 2003)

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