terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NATAL... NUM MUNDO HIPÓCRITA


A missão suprema do ho­mem é saber o que precisa para ser homem.
Emmanuel Kant (1724-1804)

A época festiva, que ora de­corre, simboliza a celebração do nascimento de Cristo cujo momento mais subli­me é no dia vinte e cinco de Dezem­bro. Todavia, nem sempre as­sim foi. Efectivamente, só no século IV, por determinação do Papa Júlio I, foi fixado aquele dia para comemorar tão impor­tante e significativo aconteci­mento histórico.
São três os quadros que ca­racterizam a época natalícia: o Presépio e a Árvore de Natal, a Missa da Meia - Noite ou Missa do Galo e a Ceia da Consoada ou Ceia de Natal. É, por tradi­ção, a festa da família e também deveria ser um período de recolhimento, de meditação e, ainda que por breves instantes, de lembrança daqueles que nunca tiveram Natal e, muito provavelmente, jamais saberão o que isso é dadas as adversidades da vida.
Mas todo o tempo é tempo, de ser tempo, para reflectir e, por isso mesmo, permitam-me a franqueza, penso que é também o período em que a hipocrisia mais se releva. Os exemplos são infinitos nas famílias, entre colegas e na sociedade em geral, sendo alguns destes chocantes e dramáticos envolvendo grande parte da humanidade. Senão, vejamos:
Como é possível haver tanta gente de um lado a morrer de fome e de sede (cerca de 800 milhões de seres humanos vítimas de subnutrição) e de outro lado tão grande desperdício?
Como é consentido tão grande desequilíbrio entre sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas?
Como se pode ignorar que, durante a década de noventa, tenham abandonado as suas casas, devido à guerra, mais de noventa milhões de pessoas, tenham morrido mais de cinco milhões e ficado feridas mais de seis milhões?
Como se pode aceitar que tenham nascido mais de quarenta milhões de crianças que não foram registadas e que, diariamente, tenham morrido mais de trinta mil crianças por causas evitáveis e, PASME-SE, existam mais de cem milhões de crianças que vivem ou trabalham na rua?
Como não se evitou que mais de dezoito milhões de seres humanos tivessem morrido devido a doenças transmissíveis?
Efectivamente, não serão estes motivos suficientes, mais reais do que aparentes, para nos sentirmos envergonhados e perturbados?
Esta realidade não pode, nem deve, ser escamoteada pois é por demais evidente que escolhe como alvos os mais desprotegidos, mas que poderá também chegar a toda a sociedade universal se, hipocritamente, continuarmos a ignorar o Mundo que nos rodeia. Tole­rar situações destas, num mundo dito de global, somente pode acontecer devido à ex­ploração do homem pelo ho­mem, do oportunismo, da in­veja, do desemprego, da droga, da insegurança e da corrupção. Tudo isto poderia não existir se houvesse o hábito, a vontade do que deve ser um ideal e o meio de o realizar, de pôr esta regra em prática para todos os ho­mens de todos os lugares, por imperativo categórico, tendo em conta o que é necessário fazer e o que é preciso evitar com um espírito de fraternidade. E, não acontecendo assim, A ÉPOCA NATALÍCIA, O NATAL, onde quer que seja celebrado, terá sempre uma chaga, ainda que muitos não dêem por ela, refle­xo daqueles que são vítimas da natureza humana.
Manuel Morujo
(Escrito e publicado em 5 de Dezembro de 2003)

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