QUI
DESIDERAT PACEM, PRAEPARET BELLUM, frase de origem latina que, na
língua de Camões, significa QUEM DESEJA
A PAZ, PREPARA A GUERRA. Que ironia do destino! Passados vinte e quatro
séculos, parece actual. Que contradição tão grande!
Ao longo de séculos de história a
humanidade viveu conflitos bélicos de vária natureza. E, se esses conflitos
resolveram e definiram pontualmente a posição dos antagonistas, não deixa de
ser certo que também transportaram, ao longo dos tempos, ódios e vinganças.
Alguns exemplos foram as lutas entre Atenas e Esparta pelo domínio da Grécia (século V a.C.) e de Cartago e Roma pelo domínio do Mediterrâneo (séculos III e II a.C.); as Guerras levadas a cabo para a constituição do Império Romano (finais do século l a.C. e o século V d.C.); as Guerras que decorreram na Idade Média entre a queda do Império Romano e o século XV, período durante
o qual se constituíram outros Impérios como o Bizantino. Este, que acabou por ser
conquistado no século XV pelos Otomanos (Muçulmanos Turcos), permaneceu até ao
século XX, após o fim da l Grande Guerra Mundial.
Lembremos ainda a Guerra dos
Cem anos (1337-1453) entre Ingleses e Franceses, a Guerra dos Trinta anos
(1618-1648) cuja origem esteve no expansionismo Francês, o mesmo que levou às
campanhas Napoleónicas (1800-1815). Já no século XX, para além das duas Grandes
Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945), conflitos como a Guerra Civil Russa
(1918-1920), a Guerra Civil de Espanha (1936-1939), a Guerra Russo-Japonesa
(1904-1905) com o objectivo de conquistar a Coreia e a Manchúria, a Guerra do
Vietname (1960-1975) antiga colónia Francesa na Indochina em que o Norte,
comunista, tentou apoderar-se do Sul, não comunista e apoiado pelos Estados
Unidos da América. Mais recentemente,
não devemos esquecer a Guerra Irão - Iraque (1980-1988), a Guerra do Golfo
(1991), o massacre do Ruanda (1994) e a Guerra do Kosovo (1998). Poderia, quase
interminavelmente, citar outros exemplos. Mas entendo ser evitável. Olhemos apenas o período que decorreu desde o final da II Grande Guerra.
O clima de hostilidade permanente
entre os Estados Unidos da América e a ex-União Soviética, também conhecido
pela Guerra Fria, levou a um estado de desconfiança e espionagem que, embora
nunca tenha levado a uma guerra armada, criou uma nítida polarização do Globo que atingiu outras disputas internacionais, da qual se destaca o conflito
Israel - Árabe. Este último, que dura desde 1948 - altura da criação do Estado
Judaico, constituído por 80% de Judeus e 20% de Árabes - levou à divisão entre
o mundo ocidental e o mundo islâmico. Culturas antagónicas, as quais se chocam
nas suas práticas.
Depois de uma pequena retrospectiva rápida e elucidativa, a actualidade apresenta-nos convulsões e medos, dúvidas e verdades - com a total falta de dignidade e de respeito pela natureza humana - que deverá servir para reflectir sobre as regras que a cultura da interacção social
desenvolveu, assim como a relatividade entre o Bem e o Mal. Onde está a
verdade, se é que ela existe, no acto de praticar a guerra? Efectivamente, o
choque de civilizações, que é evidente ao longo da História da Humanidade, só
por si não justifica o que aconteceu, que acontece e que acontecerá,
certamente. Em muitas circunstâncias as perspectivas de vidas nulas leva a que
as pessoas sejam mais receptivas às influências do fanatismo, nomeadamente o
religioso. E, este fanatismo, não se combate fazendo a guerra. Combate-se, isso
sim, contrariando as situações de pobreza, de exploração do homem pelo homem,
de respeito pela dignidade humana e pelos direitos do ser humano. Não é fazendo
a guerra por um lado e não apoiando as populações indefesas e
miseráveis, por outro. Não é fortalecendo e enriquecendo as indústrias de armamento e
farmacêuticas por um lado e, por outro, assinando tratados de cessação de
corrida aos armamentos sem eficácia. Provavelmente, a solução só será encontrada quando o
homem se destruir a si próprio. E quem nos garante que já estivemos mais
distantes disso acontecer?
(Manuel
Morujo)
SEMANÁRIO FONTE NOVA 10.11.2001
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