segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OS VENDILHÕES DO TEMPLO


"A maior desgraça de uma Nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos."
Mia Couto (1955/...)

Será necessário ser demagogo, cínico e hipócrita para ser (des)governante neste País?
Quem consegue explicar a razão pela qual, quando chegam ao poder, o comportamento é, rigorosamente, oposto àquele que têm de quando estão na oposição?
Será o cheiro do poder que os afecta ou a necessidade de mostrarem o que realmente são, MENTIROSOS?

OS VENDILHÕES DO TEMPLO

Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.

E o Povo nada conhece…
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece,
A Cristo – o bom doutrinário.

António Aleixo, in “Este livro que vos deixo…”

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

OUÇA O QUE PAULO PORTAS DIZIA, EM 2007, SOBRE OS COMBUSTÍVEIS

Vale a pena perder alguns minutos para ver até que ponto chega a demagogia, o cinismo e a hipocrisia de quem nos (des)governa, actualmente. Como se pode ter uma atitude tão contraditória? É possível, como se constata. Para tanto bastam as cadeiras onde se sentam os "representantes do Povo Português(???)".
Já dizia Frei Tomás, "faz o que eu digo, não faças o que eu faço".


terça-feira, 21 de agosto de 2012

DOUTORES E LICENCIADOS, BACHARÉIS E...O RESTO


Era tempo de veraneio. A brisa, que vinha da costa alentejana, convidava os vera­neantes a passearem. Enquanto descia por uma das ruas da aldeia que Rui Veloso e Carlos Tê tão bem souberem divulgar, eis que, no meio da multidão - não tanta, mas alguma - se me afigura uma cara que pensei reconhecer. Uma troca de olhares e...tomo a iniciativa de perguntar:
- Desculpa-me a ousadia, mas tu não és o…         ?
- Sim, sou o engenheiro…
Algo perplexo com a resposta, pensei, num ápice, virar-lhe as costas. Mas reagi com alguma diplomacia e cordialidade.
- Não te via desde os tempos do Liceu, meados de sessenta, quando praticámos desporto juntos, jogámos bilhar, e “cavalinhos” no Alentejano, e "polimos" algumas pedras da Rua do Comércio. Desde então o que tens feito?
- Já te disse que sou engenheiro e vivo em Lisboa, onde exerço a minha acti­vidade.
Perante nova exibição do título académico, resolvi actuar como ele desejava. Nos pou­cos minutos em que estabe­lecemos diálogo, tive o cuidado de o tratar sempre por engenheiro não refe­rindo mais o seu nome.
Após as despedidas, continuei o meu caminho, aproximei-me da falésia e sentei-me num dos bancos virados para o mar, onde o constante bater das ondas me fazia recordar a musicalidade e o poema:
Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo o rouxinol nas redondezas
No calmo improviso do poente.

Introspectivo, confirmei que o tempo modifica as pessoas, altera a sua personalidade! Nunca tal me tinha acontecido! Mas não há dúvida que há sempre uma pri­meira vez, em tudo.
Passado algum tempo, regressei a casa pois apro­ximava-se a hora de jantar. Curiosamente, nessa noite, ao ouvir o telejornal, duas notícias me avivam a memória: a primeira, não mais importante do que a segunda, referia que, no Vale do Ave, os empresários procuravam e não conseguiam arranjar quem desejasse trabalhar na in­dústria têxtil, mesmo pagando acima da média. A outra, dava conta de haver mais de vinte mil licenciados desempregados ou a exer­cerem actividades em áreas diferentes daquelas em que se formaram.
Nem a propósito: primeiro o ex-colega liceal que, desde o primeiro momento do reen­contro, mostrou a intenção de ser tratado pelo título acadé­mico. Seguidamente, a notícia de haver trabalho e ninguém o aceitar e de gente desem­pregada, que não aceita qual­quer trabalho. Por mais que me esforçasse, não conseguia entrosar as coisas, embora sentisse que elas se rela­cionavam entre si. Mas final­mente fez-se luz.
Nos dias que correm, a importância de se possuir um título académico é, para alguns, a razão da sua existência, independente­mente do que saibam fazer e, pior ainda, da sua competência. Na verdade, há por aí tantos a quem chamam de "dou­tores" e só possuem a licenciatura! Estes, quanto muito, poderiam ser tratados por LIC, de maneira a não os confundirem com aqueles que são realmente Doutores. Já o outro dizia que "chapéus há muitos", que transportado para o momento actual poderá ser "licenciados há muitos, mais do que se possa imaginar". Duvidam? Dou apenas dois ou três exemplos:
-quem cumpriu o serviço militar, é licenciado;
-quem exerce funções para as quais é necessária car­teira profissional, é licen­ciado;
-quem tem carta de condução, é licenciado.
É verdade que são licenciados também aqueles que adqui­riram um grau ou título uni­versitário, entre o Bacharel e o de Doutor. Mas, mui­tas vezes, para se exercerem determinadas funções de grande responsabilidade não é necessário ser-se "Dr", "Lic" ou "Bac". Basta, somente,  currículo e competência para o desempenho das funções. Querem três exemplos:
-António Capucho, líder parla­mentar do P.S.D.;
-António José Seguro, deputado Eu­ropeu pelo P.S.,
-Armando Vara, Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro.
Afinal, Portugal é uma terra de muitos doutores que não são doutores, de muitos licenciados que querem ser doutores e de muitos licenciados que o são sem saberem. Consoante a importância das funções, e aliada ao traje que envergam, mesmo os que não o são, passam a sê-lo.
Por cá, e contrariamente ao que se passa em outros países europeus, dá-se demasiada importância aos títulos académicos. Isso tem a ver com a "cultura do penacho".
Manuel Alberto Morujo
26 de Agosto de 2000

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

INVERSÃO? QUEM ACREDITA?

A propósito das declarações do Primeiro-Ministro, na passada semana, de que "o ano de 2013 será um ano de inversão", lembrei-me do seguinte pensamento de Friedrich Nietzsche:
"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

PENSAMENTO DO DIA 08/08/2012


"OS POLÍTICOS E AS FRALDAS DEVEM SER MUDADOS, FREQUENTEMENTE, E PELA MESMA RAZÃO."
EÇA DE QUEIROZ (1845-1900)

PORTALEGRE - A CASCATA E O TARRO

 JARDIM PÚBLICO, ANOS 40 (SÉC. XX)
AO FUNDO A CASCATA, À DIREITA O CEDRO
 AO CENTRO, COM O CHAPÉU NA CABEÇA, O MEU PAI, JOÃO MORUJO 
E MAIS DOIS AMIGOS QUE NÃO CONSIGO IDENTIFICAR.


JARDIM DA AV. DA LIBERDADE, 2012 (d.C.)
AO FUNDO O TARRO...E OS RESTOS QUE LÁ DEIXARAM
2012 (d.C.)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

PORTALEGRE OUTRORA...E PRESENTE




A tarde escurecia, rapida­mente. No Verão, o dia é enorme mas o crepúsculo também chega. Dura quão o tempo o deixar.
Sinto-me angustio­so, melancólico, revoltado. De­cido-me a sair de casa e po­nho-me a percorrer as ruas da minha cidade, sem destino e solitário como um condenado na sua cela, fugindo de mim. De­sencaminhado na solidão, co­meço a perder o rumo. Sinto-me disperso e mais só do que nunca. Quero conhecer o se­gredo das coisas e das almas.

De repente, paro. "Acordo" e dou comigo frente à Casa do Poeta, José Régio:

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.

Cântico Negro. Recordo o passado, tento entender o presente, não sei se desejo o futuro.

Um pouco adiante, rendido ao cansaço, sento-me num banco debaixo de uma árvore a qual deixa passar uma luz vinda daqueles candeeiros inexistentes ali nos tempos estudantis. Escuto a voz de tudo o que sinto.

“A minha Pátria é a Língua Portuguesa”, veio-me à memória  Fernando Pessoa:

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
È a vela que passa,
Na noite que fica.

Já é tarde. A noite caiu e está agradável com a brisa fresca que se faz sentir. Levanto-me e caminho pela cidade velha. De soslaio, tenho ainda tempo de ver que as arrojadas chaminés já não brotam fumo na direcção da cidade.

Num ápice, inicio a caminhada pela principal artéria da cidade:
José Maria Alves, Caixa Geral de Depósitos, Café Alentejano, Banco Pinto Sotto-Mayor, Sr. José Augusto, Alfaiataria Traguil, Papelaria-Livraria José Tavares, João Morujo, Sr. Silvino Henriques da Silva, Alfaiataria Moutoso, Sr. Teixeira, Sr. Monte Empina, Casa Chiado, Farmácia Esteves Abreu, Ourivesaria Elias, Sr. João dos Bigodes, Sr. Francisco Paiva, Sr. Alcobia Marques, Sr. Manuel Azinhais, Alfaiataria Albano Durão, Sr. Pinheiro, Casa Ferreira, Pérola Comercial, Sr Júlio Margalho, Casa Piçarra, Sr. Filipe José Quezada, Sr. António Ribeiro, Casa de Bordados Oliva, Casa Vaqueiro, Casa Nini, Quesada&Cardoso, Sr. Tiago, Ourivesaria ÁriasI, Sapataria Ramos, Padaria Esteves Moreira, Sr. Felisberto, Banco Nacional Ultramarino, Alfaiataria Hernâni, Sr. Custódio SilvaI, Café Central, Correios de Portugal, Sapataria Sanches, Salchicharia Brito, Sr. José Cardoso, Casa Ascenção, Casa Formidável, Fotógrafo Rosiel, Sr. Hermínio de Castro, Sr. Martins, Sr. Umbelino, Alfaiataria Manuel Cabecinha, Sr. António Pereira, Casa Mirra, Sr. Francisco Paiva, Sr. Custódio SilvaII, Farmácia Nova, Sr. Lourinho, Ourivesaria Cabecinha, Casa Singer, Sr. Godinho, Padaria Baptista, Barbearia Pardal, Sr. Guanilho, Sr. Joaquim Ribeiro, Casa Nuno Álvares, Pastelaria A Tentadora, Chapelaria e Camisaria Garcia, Casa Silva Freitas, Sapataria Camejo, Sr. Fitas, Sr. Milhano, Sr. Marchão, Sr. Manuel Vintém, Casa Tapadinhas, Sr. Casa Nova, Casa das Sedas Sr. Simão, Companhia de Seguros Ultramarina, Tinturaria Espiga, Ourivesaria Árias II, Sr. Cruz, Café Luso, Mercearia Rodolfo, Casa Papafina, Cegrel, Sr. Casimiro Bezerra, Café Facha, Casa Raimundo, Estação de Serviço Sonap, Cervejaria Tropical e, quase sem dar por isso…Palácio Póvoas.

Na rua, que deixei para trás sem vozes e sob a luz fresca da Lua, cruzei-me apenas com um ou outro canídeo que procurava um ou outro alimento descuidado, que o satisfaça.

Nostálgico, olho sem nada ver. Nesse instante, pareceu-me ouvir alguém chorar lamentando a partida que o destino pregou aos Portalegrenses. Era alguém que ali deixou muitas décadas da sua vida com uma entrega e dedicação incompreendida. Outrora, esta artéria era o coração da cidade, hoje sem coração, sem respiração, sem alma…apenas memórias.

Ponho-me a caminho de casa e recordo o Poeta Cristóvão Falcão:

Todo o bem dura um momento,
O mal é de todo o ano
Por breve contentamento,
Grande tempo, grande engano.


A minha homenagem a todos aqueles que já partiram (não só aos aqui referidos) e que fizeram desta cidade um espaço do qual nos orgulhávamos.

(Manuel Alberto Morujo)