segunda-feira, 17 de outubro de 2016

QUE BOM RECORDÁ-LO, TAMBÉM, DRº RENATO


A campainha tocou e uma nova aula iria começar. Como sempre, os alunos aguardavam a chegada do Professor, em silêncio, pois o respeito por eles era enorme. "Good morning", assim se dirigia sempre aos alunos o Professor, enquanto se encaminhava para a secretária. Mas, naquele dia, os olhos dele bastante expressivos, e o seu bigode de "gentleman", exteriorizavam uma certa boa disposição o que, diga-se em abono da verdade, nem sempre acontecia, principalmente quando a sua "briosa" perdia. Hoje, vou proceder à entrega dos exercícios de redacção subordinados ao tema "Como passei o meu Carnaval" merecedores da mais elevada pontuação, alguns verdadeiras obras de arte, assim iniciou a aula. Conhecedores do seu enorme humor "britânico", cáustico e corrosivo, logo nos preparámos para o que viria a seguir. À medida que entregava os exercícios, vagarosamente e com comentários à mistura, os nervos iam-se apoderando de nós pois sabíamos que os últimos a serem entregues seriam aqueles que mais prazer lhe daria para brincar com o seu destinatário. E o último, a ser entregue,  foi realmente aquele que ele comentou mais exaustivamente. Terá sido a frase "caí do horse and I get a constipation" aquela que caíu no "goto" do Professor e que o levou, durante alguma tempo, a repeti-la nas aulas seguintes, brincando com o aluno que, por acaso, até era um dos melhores da turma na disciplina de Inglês.
Pois, certamente que alguns já adivinharam que o Professor era, nem mais nem menos, o Dr. Renato de Azeredo Costa. 


Licenciado em Germânicas, e também em Direito, foi um dos Professores mais carismáticos do Liceu e que deixou, em cada aluno, uma marca inesquecível. Pai de quatro filhos - recordo aqui a Isabel a filha mais velha que infelizmente já nos deixou, não há muito tempo - era fácil vê-lo acompanhado da esposa a "ir beber café" ao Alentejano, ou ao Facha na companhia do filho mais novo (ainda criança) a quem dava sempre meia-colher de café para saborear a bebida de que ele tanto gostava. Outra particularidade, para além do seu inesquecível cigarro, era trazer sempre consigo exemplares de palavras cruzadas retirados dos jornais, que fazia com uma mestria inigualável, tal era a sua cultura e conhecimento da Língua de Camões.
Tantas seriam as estórias
que aqui poderia trazer. Mas não quero terminar este testemunho sem referir que, naquele tempo, os alunos do Liceu tinham um Grupo de Serenatas e que sempre que saíam à rua, parávamos à porta da sua residência, na Rua cinco de Outubro, que, deliciado, nos ouvia e "matava" saudades do seu tempo de estudante em Coimbra, onde, segundo constava, tinha sido um verdadeiro...Estudante Coimbrão.

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