segunda-feira, 10 de outubro de 2016

DR. FRANCISCO BARROCAS, QUE BOM RECORDÁ-LO

Viver o presente e aguardando o futuro, mas sem esquecer o passado, é uma forma de sentir a vida. As vivências levadas à reflexão não são mais do que recordar o "eu" e tentar saber o motivo por que aconteceram assim e não de outra maneira. 
Um dia, no início de um novo ano lectivo,no Liceu Nacional de Portalegre, entrou na sala de aula um novo Professor que se dirigiu aos alunos com um sorriso "malandreco" e apresentou-se:"...sou natural da terra mais fina de Portugal, alguém sabe qual é? Levantei-me de imediato e disse, "Seda, sôtor". E a resposta não tardou: "bem podias ter ficado calado pois tu eras o único que sabias, já te conheço há muitos anos. O Dr. Francisco Barrocas, esse mesmo, era o Professor. Efectivamente, conhecia-o desde muito jovem.


O Dr. Barrocas, como era conhecido na cidade, foi um figura ímpar com uma cultura acima da média que gostava de "gozar" a vida, muito simpático e com um sorriso muito característico e quase sempre com o cigarro a acompanhá-lo. Deslocava-se com um passo lento, mas muito seguro, olhando sempre em seu redor como bom observador do mundo que o rodeava. Recordo-me, aquando do meu segundo ano liceal, ter-me ensinado Francês, na sua residência na Rua da Mouraria, onde já por ali deambulava uma menina muito bonita com cabelos bastante alourados, com sorriso constante e simpático como o Pai. Essa mesmo, era a Fernanda, sua estimada e muito querida filha.

   


Não resisto a contar mais uma pequena estória que se passou precisamente no dia vinte e três de Maio de mil novecentos e sessenta e três. Era Feriado Municipal em Portalegre e eu, com o meu Amigo Augusto Tavares, resolvemos ir passar o dia em Badajoz. Ambos, trajados com Capa e Batina, procurámos uma "boleia", perto do antigo  Posto de Viação e Trânsito nos Assentos que nos levasse até aquela cidade espanhola. Eis então que, a determinado momento, surge um automóvel com um casal aparentando os sessenta anos e, em Inglês, pergunta-nos o condutor se "éramos estudantes de Coimbra" e para onde íamos. Olhámos um para o outro e em uníssono respondemos "que sim" éramos  estudantes de Coimbra (uma mentira que nos abriria a porta do carro) e fomos então convidados a entrar. Lá fomos falando com eles, quanto o nosso conhecimento de inglês o permitia, fundamentalmente sobre Portalegre e Coimbra pois, felizmente, ambos conhecíamos a "cidade dos estudantes". Chegados a Badajoz, dirigimo-nos até ao Café Colon, local que frequentámos várias vezes sozinhos ou com os nossos Pais, situado no Largo do Ayuntamento local e perto da Calle de San Juan onde se compravam os caramelos e "outras coisas"... lá mais ao fundo Pedimos o habitual, calamares e coca-cola com uma rodela de limão. Em dado momento, eis que entra o Dr. Barrocas "muito bem acompanhado" e que ao ver-nos logo se dirigiu à nossa mesa. Levantámo-nos (hábito que tínhamos quando alguém mais velho, e neste caso nosso Professor, nos dirigia a palavra) e com a sua "voz grossa, mas colocada" disse-nos: Então o que andam estes dois "garanhões", sozinhos, por aqui a fazer? Tenham cuidado que vocês ainda são muito novos. Envergonhados, lá continuámos o nosso petisco e ele sentou-se a beber o seu café.
Mas o Dr. Francisco Barrocas, não foi apenas Professor no Liceu de Portalegre de várias disciplinas, tal era a sua cultura e conhecimento. Foi-o também na Escola Industrial e Comercial de Portalegre de onde se aposentou em 1986. Foi também, e para além de ter sido co-fundador do Colégio de Santo António, juntamente com o Dr. José Nunes e o Dr. Plínio Serrote, dirigente associativo do Sport Clube Estrela, da Sociedade Euterpe e do Clube de Pesca Desportiva do Alto Alentejo por exemplo. 
E aqui presto a minha homenagem ao Amigo, Professor e uma figura grada de Portalegre onde viveu a maior parte da sua vida.






2 comentários:

  1. Foi meu professor nos anos de 1953 a 1957 no Colégio de Santo António, disciplinas de francês e português (ensinou os Lusíadas do Canto I ao Canto X, completos, o que não era obrigatório no programa oficial), óptimo professor e grande amigo; também frequentei a casa dele para explicações, éramos muitos. Que esteja em paz.

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  2. Também foi meu professor no Liceu no 6º e 7º anos (1972/73 e 1973/74.
    Tenho boas recordações.

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