quinta-feira, 30 de junho de 2011

"E DEPOIS...QUEIXEM-SE"

Tenho para mim que, uma das consequências da globalização, tem a ver com o facto da facilidade com que chegamos a qualquer ponto e de tudo se poder conhecer, em tempo real. O Mundo parece estar mais pequeno. Quem está na Europa tem a ambição de conhecer outros continentes e, para tal, não são inoportunas as mais variadas promoções para que se torne a iniciativa de viajar uma realidade.
Neste planeta conturbado, as aventuras são por demais sugeridas. Para tal, muito contribuem os anúncios e as formas, mais ou menos evidentes, de despertarem essa curiosidade para as consumirmos. Quer a publicidade estática, quer através dos órgãos de comunicação social, já para não referir os “panfletos” com que diariamente as nossas caixas de correio ficam repletas, são a prova do que afirmei. “Mude de carro, mude de vida…e ganhe uma viagem” promete o anúncio da campanha de troca de um carro usado por um novo, mesmo ao lado de um anúncio de um banco que pergunta, “Quem disse que você não pode ter tudo o que quer?”. Mais adiante, num outro anúncio de uma agência de viagens na paragem de autocarro, vê-se uma rapariga morena a dormir, com um sorriso feliz nos lábios, em cima de uma almofada de pétalas e a anunciar um pacote especial para a Tailândia ou para as Maldivas. Sugere este, “Faça férias agora… pague só para o ano”, sublinhando dizeres sugestivos como “há muita coisa que pode acontecer”. Essa muita coisa, estou em crer, era a possibilidade espantosa de se ir a um sítio daqueles agora e só pagar oito meses depois. Isto é: não tenho dinheiro agora para pagar a viagem, mas pode ser que haja a hipótese de, nesses oito meses antes do pagamento, acontecer algum milagre que, sem mais qualquer esforço ou agonia, torne o pagamento possível. O sonho continua e, passadas dezoito horas com escala no sultanato do Omã, a viagem chega ao fim. Aqui chegados, logo da portinhola do avião já se entrevêem, a perder de vista, as águas transparentes e cor de esmeralda do Oceano Indico que banha os recifes de coral.
Como as coisas ocorrem hoje em dia, o cidadão é apanhado desprevenido e, como tudo é aparentemente fácil, cai na armadilha. Sim, porque, de uma maneira geral, a publicidade não é mais do que uma armadilha colocada de forma ardilosa para que os mais incautos e desprevenidos nela tropecem, com a mesma facilidade com que respiram. 
Mas de todas as formas de publicidade, para além das que já enumerei, a que mais me incomoda é aquela que nos surge através do contacto telefónico. Quase diariamente – e não é exagero – somos incomodados pelo outro lado da linha por alguém que nos quer vender um novo pacote da T.V., uma assinatura de uma qualquer revista sem interesse, a aquisição de um colchão que resolve todas as maleitas, a adesão a um novo sistema de Internet e, a mais curiosa de todas, a oferta de “um presunto” ou de um fim-de-semana à escolha em qualquer parte, se comparecer às tantas horas num determinado local, só para conhecer a empresa que estão a promover. Muitas das vezes, e se após várias tentativas negarmos o convite, ouvimos expressões menos correctas de quem nos contactou, algumas vezes com um “sotaque” estrangeiro que, por acaso, até nem é do meu agrado.
Embora possa parecer o contrário, nada tenho contra a publicidade. Mas todo o cuidado é pouco, pelo que devemos estar cada vez mais atentos a “ofertas” gratuitas, fáceis e acessíveis. Como diz um amigo meu, “ninguém dá nada a ninguém”
Por mim, e depois de ter aprendido com a facilitação que me levou a cometer erros, já decorreram muitos anos que não vou em "cantigas do vigário". Por isso, há que ter cuidado para não ficar "atolado na lama" e haver arrependimentos tardios.
Manuel Alberto Morujo
(Abril de 2005)

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