segunda-feira, 27 de junho de 2011

E POSTOS DE TRABALHO?

(Texto escrito em Outubro de 2004)

A recente decisão do Governo, de pretender fazer a ligação das capitais de Distrito por auto-estrada, foi recebida com incontido entusiasmo por quase todos os sectores da sociedade Portalegrense. Com maior ou menor entusiasmo, consoante mais perto estão do poder político que actualmente governa o País. Sobre esta matéria, o cidadão vulgar, que não menos esclarecido, questiona-se se isso virá a ser realidade e, em caso afirmativo, quando?
Todavia, parece-me oportuno recuar alguns anos e constatar o que aconteceu nesta matéria de vias de comunicação, nomeadamente rodoviárias, e de grandes empreendimentos ou projectos estruturantes, como alguns gostam de lhe chamar.
Decorria o ano de 1985 quando o Distrito de Portalegre, por ser considerado uma zona periférica com tendências para a desertificação e uma população envelhecida, foi contemplado com uma O.I.D. (Operação Integrada de Desenvolvimento). Foi nessa altura que chegaram a Portugal os primeiros dinheiros (e não em 1988, como por vezes se ouve dizer) para a construção de Centros de Saúde, melhoria das condições hospitalares, vias de comunicação, etc. Foi também nessa altura que se voltou a falar da célebre IC13 e da Barragem do Pisão e, acima de tudo, na necessidade de não deixar que esta região se degradasse no tempo. Relembro que, além de Portalegre, só foram contempladas mais duas regiões, além da nossa: Viana do Castelo e a Península de Tróia.
Passados estes anos todos, verificamos que os sucessivos Governos desde Cavaco Silva, passando por António Guterres, até Durão Barroso, mais não fizeram do que colocar-nos no gueto em que hoje nos encontramos e do qual dificilmente sairemos com construções de auto-estradas.
O que na realidade se constata é que Portalegre é uma cidade em que os postos de trabalho diminuem, como aconteceu com o fecho de uma importante unidade fabril, há dez meses . Até mesmo a construção das novas instalações da Robinson, anunciada “com pompa e circunstância” pelo então Ministro da Economia, em Julho de 2003, parece, pelo menos à vista da opinião pública, ter ficado em “águas de bacalhau”.
Mas, voltando ao tema inicial desta minha crónica, gostaria de referir que a alegria deslumbrante daqueles que esperam que a anunciada auto-estrada (será mais uma promessa tipo Barragem do Pisão?) virá resolver os problemas com que nos debatemos há décadas, não é por mim, e certamente por muitos, partilhada. Ao pretenderem fazer-nos acreditar que o desenvolvimento de Portalegre, a aposta em projectos estruturantes, a criação de postos de trabalho e a fixação das populações passa pela construção dessa auto-estrada, não é senão “tapar o sol com a peneira”. Se a sua eventual construção é certo que melhorará algumas ligações aos grandes eixos, o nosso mal, o nosso fado, é que quase ninguém aposta e investe em Portalegre, porque, de entre outras coisas, aqui há pouca massa crítica. A nossa situação geográfica só atrai quem cá necessita de vir para uma breve visita, pois nem as condições hoteleiras são atractivas. Ao longo dos anos, o que vejo é que o investimento se faz cada vez mais junto ao litoral e, fundamentalmente, onde há maior densidade populacional. Esta cidade tem vivido, e vive em primeiro lugar, por ser capital de Distrito e por aqui ainda continuar a haver muitos serviços da Administração Pública, para além de, na maior parte do ano, ter uma população flutuante devido ao ensino superior. Se tivessem anunciado em vez da auto-estrada, a criação de unidades industriais, postos de trabalho, estruturas para a fixação dos Portalegrenses, isso sim, seria motivo de grande alegria. Mas, pelos vistos, isso é uma miragem.
Manuel Alberto Morujo

   

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