domingo, 13 de novembro de 2011

FORMIGAS "MARABUNTA" E GAFANHOTOS

Modéstia à parte, cada vez fico mais admirado como foi possível a um Cidadão Portalegrense que poucos - muito poucos mesmo - levaram a sério os seus escritos publicados em semanários regionais,ao ter antecipado e constatado que algo estava errado e que o País estava mal governado - muito mal mesmo - e que caminhava para o abismo, sem ninguém alterar o seu rumo como, infelizmente, hoje se confirma. Todavia, serve de conforto o que um Amigo, que além de o ser de sempre é meu companheiro de tertúlias musicais, me escreveu há dias: 
"Os espíritos independentes e frontais serão sempre incómodos, mas são eles que fazem avançar a sociedade e por isso aprecio e apoio os teus textos"
O texto que se segue foi escrito, e publicado, em 26 de Agosto de 2005

“É difícil manter de pé um saco vazio”

Após três semanas de férias, retomo esta relação semanal com os meus leitores com a convicção de que a separação, ocasional, foi benéfica para todos.
Tal como vem acontecendo, de há muitos anos a esta parte, desloquei-me para o centro do País para aí passar uns dias. Francamente, que interesse tem o leitor em saber onde passo férias, para o estar aqui a referir? A resposta é simples: quero partilhar consigo, caro leitor, que não gosto do Algarve. Gosto do clima mais ameno, de praias com mais iodo, de menor envolvência de betão e, acima de tudo, não gosto de ser tratado, no meu País, como cidadão de segunda e de ser explorado por quem quer que seja.
Durante o período de férias houve um tema que me foi audível com alguma frequência, quer por cidadãos residentes quer, fundamentalmente, por emigrantes. Esse tema, principalmente nas conversas de praia, era sobre a situação política, económica e social do País. Uns afirmavam que Portugal tem um nível de vida elevado e um índice de produtividade baixo, apontando como responsáveis o aumento sistemático dos combustíveis e o facto de muitos trabalhadores receberem, embora pouco, mais do que produzem; outros referiam que há muitos parasitas a viver à custa de salários e reformas principescas, não deixando de enunciar que há também aqueles que vivem da corrupção e da evasão fiscal;
poucos eram os que afirmavam que o pior era o drama central das contas públicas e o bloqueio que criam na actividade económica.
Bem, a questão sem dúvida que é essa, mas não da forma como muita comunicação social nos tenta fazer crer. Vejamos:
Sabendo-se que a actividade económica gira, toda ela, à volta dos combustíveis - que atingiram valores impensáveis antes da Guerra do Iraque - torna-se hoje impossível, num País pobre e dependente daquele produto como é o nosso, evitar que tudo aumente para além de qualquer previsão mais optimista;
Também é sabido que há milhares de trabalhadores, na Administração Pública, que recebem mais do que produzem, sejam eles ou não privilegiados, o que esmaga profundamente, pelo seu número, o Orçamento do Estado;
Sabendo-se não existirem dúvidas quanto aos privilégios escandalosos de alguns, considerando, em muitos casos, que as despesas são elevadas e imorais, não deixa de ser também verdade, em meu entender, que essas despesas não são tão relevantes, sobre o buraco orçamental como se pretende fazer crer. O dinheiro envolvido, nesses abusos, é irrelevante perante a dimensão da cratera, que é o défice orçamental;
Sabendo-se que a criação de riqueza e o aumento da economia está assente no sector empresarial (público e privado), a absorção das despesas públicas, no que toca a despesas com pessoal, é demasiado superior ao valor que o seu trabalho presta à sociedade. Invoca-se, com frequência, que a Administração Pública abusa de dinheiros mal gastos e que concedeu direitos ao nível dos auferidos em Países ricos. Pouco se fala, ou escreve, que, desde a entrada de Portugal na U.E., o salário real aumentou cerca de 4,7%, no sector estatal, contra os quase 2%, no sector privado. Tudo estaria bem, se o sector público contribuísse com algo comparável e proporcional, para o bem - estar nacional;
Sabendo-se que, nas estimativas mais generosas, o valor produzido no sector público é inferior ao produzido nas empresas, estão assim criadas as condições para a devastação do corpo nacional;
Sabendo-se, finalmente, que a única coisa que pode devastar uma selva não é a marcha dos elefantes mas a fome das “formigas marabunta” e que a planície não é arruinada por manadas de herbívoros mas por pragas de “gafanhotos” eis-nos perante o problema:
como evitar que o POVO PORTUGUÊS continue a ser dizimado? 

Sem comentários:

Enviar um comentário