Eram imensas as "tascas" em Portalegre, nos anos sessenta. Havia ruas em que, porta sim, porta sim, era um local de convívio e discussão, de copos e bebedeiras, de má-língua e novidades. Ouvia-se, em quase todas, "sai mais um copo de três, eu quero um de cinco". Ou "dá aí uma sandes de atum e um "carapulo" que eu pago quando receber". Não querias mais nada, "fiado só para a semana", retorquia-lhe o "taberneiro".
Enumerá-las todas, seria difícil. Mas algumas eram tão emblemáticas, que muitos ainda se recordarão delas. O Romualdo, O João dos Bigodes, O Escondidinho, O João da Praça e O Marchão eram as mais conhecidas e, provavelmente, as mais concorridas. Mas, sem desprimor para todas as outras aqui referidas, ou omitidas, a que deixou maior marca foi, sem dúvida, o Marchão, as Catacumbas do Marchão. Ainda hoje, antigos colegas do Liceu me falam dela, com saudade, considerando mesmo que, esse "ex-libris portalegrense", nunca deveria ter acabado.
A foto que se segue, na qual podemos relembrar o proprietário, Sr. Domingos Marchão, o Sr. Tapadinhas, o Sr. José Alves (Zé Smoke), o Sr. João (Careca) e o Sr. Caldeira (que foi empregado de mesa no Café Central) foi obtida na entrada principal do lado da Rua do Comércio. Porém, esta não era a única via para aceder a estas instalações. Existiam nas traseiras, na Rua da Capela, mais duas entradas, uma das quais dava entrada directa a um reservado destinado a pessoas mais importantes da sociedade local e que bebiam "copos", e comiam "petiscos", como os outros, onde apanhavam também umas "bebedeiras"...em privado. O Sr. Diogo, figura carismática desta casa, rodopiava por tudo o que era sítio, degraus acima, degraus abaixo, subindo, e descendo escadas até à cozinha, numa azáfama constante sobre o olhar, e o comando, impenetrável do Sr. Marchão.
E, só para fazer crescer água na boca, quem não se lembra do bucho assado, da miolada de rins e dos túbaros de porco, dos amendoins, dos tremoços e das batatas fritas, dos peixinhos da horta e dos carapaus de escabeche, das empadas e dos croquetes de bacalhau, da cerveja Imperial de Coimbra e do tinto (ou branco) do Sr. Benvindo das Barradas?
Como é bom recordar estes excelentes pitéus preparados pela esposa do proprietário!
Tempos passados, que bom recordar. Até parece que os estou a saborear, neste instante, tal a grata recordação que retenho.
Nota: um abraço ao Jerónimo Lino Mendes que me cedeu a foto.