sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O BURACO DO OZONO

As estações de televisão fazem tudo para cativarem o maior número de telespectadores. Cada uma mostra o que pode e o que tem. Sem olharem a meios, nem a fins, recorrem-se dos Zés e das Marias que se disponibilizam, duma forma discutível, a participarem em manifestações providas de mau gosto. Só o dinheiro, e a fama que possam obter, poderá servir de atenuante àqueles actores sem guião. Sim, porque este despudor a que se chegou é feito em prol das "guerras de audiências".
Mas o mais curioso é que há público que adere com curiosidade, e babado, na expectativa de poder ver participantes a darem uma "queca" em directo...ou em diferido. E, se há algum público que entende como forma de coragem o facto de os "actores" se disponibilizarem a ausentar-se do resto do mundo durante algum tempo, já para outros não deixa de ser degradante, e até chocante, o que já se presenciou.
Mas nestes dias de Verão, por sinal bastante quentes e os últimos do século, trouxeram-me à memória outra questão. Trata-se de "o buraco do ozono" a que, naturalmente, as televisões não prestam a mesma atenção pois não estimula audiências, nem patrocinadores. 
Assunto sem interesse, dirão alguns, talvez não tanto, dirão outros.
Pois é. Desde os anos sessenta que alguns cientistas têm vindo a alertar para o facto do cloro, presente nos clorofluorcarbonetos, poder destruir a camada de ozono, na sequência de uma reacção química (monóxido de carbono) com um dos três átomos de oxigénio que compõem o azoto. Aqueles gases, que poderão permanecer na atmosfera durante mais de cem anos, atacam o azoto. 
O que está a ocorrer nos Pólos Norte e Sul, no Ártico e no Antártico, com icebergs à deriva cada vez maiores, é o principal indicador de que as condições climáticas estão a mudar e será irreversível o aumento das temperaturas na Terra.
Cientistas que acompanham este fenómeno há muitos anos tiveram, há pouco tempo, o ensejo de verem o maior iceberg jamais visto pelo Homem. Foi detectado no Mar de Ross, no Hemisfério Sul, perto da Nova Zelândia. Para ficarmos com uma ideia do seu tamanho, podemos imaginar um bloco de gelo com 295Kms de largura e 37 Kms de altura. E, segundo a previsão dos cientistas, outros de maiores dimensões poderão surgir em tempos mais próximos, tanto mais porque o buraco do ozono não pára de aumentar e, consequentemente, as temperaturas na Terra.
Mas ao lado "bacoco" deste País o que interessa são os espectáculos tipo..."pimba" que as televisões nos oferecem pois, quando não é futebol ou novelas, são filmes de qualidade duvidosa ou tele-jornais com imagens repudiantes nas horas das refeições e a exploração dos sentimentos pessoais.
Mas tudo isto não deixa de ser o reflexo da sociedade dos nossos dias na qual a humanização, e não só, pouco existe. 
A vergonha deixou de ser uma referência, o despudor impera, a ostentação não incomoda. Tudo gira à volta da falsidade, da mentira e do poder do dinheiro, com o objectivo de distrair as "massas"!
Todavia, não deixo de me questionar: e quando chegará a geração que ponha termo a tudo isto? 
Talvez um pouco de gelo glaciar fizesse bem àqueles que comandam o destino da humanidade e, bem depressa, tomassem medidas corretoras  antes que seja tarde...se não for já tarde demais. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

PROFESSOR, POR FAVOR, ENSINA-ME A LER O MUNDO


Pois é, esse será agora, e no futuro imediato, o grande problema da Humanidade: haverá alguém que o consiga fazer, independentemente de ser ou não Professor?
Como se poderá explicar a uma criança que "deus" criou o mundo e que nesse mundo as principais quezílias, e desavenças ao longo dos séculos, têm sido, e são, devidas às divergências interpretativas das várias religiões ou interesses que estão por detrás delas?
Como se poderá transmitir a uma criança que há lideres no Mundo que tudo fazem para dominar e controlar a Humanidade?
Como se poderá responder a uma criança, em plena era tecnológica, que se deverá continuar a seguir os princípios e as regras de antanho tantos séculos passados?
Como se poderá continuar a dizer às crianças que as galinhas nascem dos ovos e não explicar como nasceram as galinhas? 
Como explicar que o mundo gira em volta de si próprio, e da Grande Estrela, e que nada e ninguém o faz girar senão a força da natureza?
Como explicar o inexplicável já que o explicável ninguém sabe explicar?
(Manuel Alberto Morujo)
      21/07/2020

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

ALMARAZ OU AZARÁS?

CENTRAL NUCLEAR DE ALMARAZ

O conflito, que ora se perspectiva entre os dois Países Ibéricos, não é recente pois dura já há alguns anos.
Como é sabido, os três grandes rios que atravessam Portugal nascem em Espanha e, segundo a Lei da Natureza, correm de Jusante para Montante o que significa que de Espanha virão as boas ou más águas, consoante o tratamento que lhes seja dado. O Rio Tejo entra em Portugal na confluência do Rio Sever - que nasce na Serra de São Mamede - mais propriamente na Barragem de Cedillo de Alcântara que divide os dois Países neste ponto. Já em Vila Velha de Ródão, ponto mais estreito de todo o caudal do Tejo, fica a Barragem de Fratel e, um pouco depois, a Barragem de Belver. Por isso mesmo, qualquer alteração que se venha a registar na qualidade das águas, durante o seu percurso até Lisboa, terá um impacto directo, e negativo, na sobrevivência das populações ribeirinhas e, correspondentemente, na economia local.
A Central Nuclear de Almaraz, cujo início de actividade data de 1981, deveria ter terminado a sua "vida" em 2010, curiosamente um ano antes do acidente da Central Nuclear de Fukushima e vinte quatro anos depois do acidente de Chernobil. Há quem defenda, mesmo em Portugal, que os reactores nucleares não têm prazo de validade, mas é preciso ver se "no conjunto está a operar em segurança".
Ao que sabemos, é isto que o Ministro do Ambiente Português pretende acautelar mas o Governo Espanhol, unilateralmente, prolongou a actividade de Almaraz até 2020, com as consequências eminentes ao funcionamento para além do prazo do material utilizado na sua construção e, não só não encerrou a Central como decidiu ampliar as instalações com a construção de um armazém de resíduos nucleares para urânio, material altamente radioactivo e perigoso, sem os necessários estudos do impacto ambiental com o vizinho Português. E aqui reside o perigo, e a contestação do Governo Português que pretende ser ouvido para salvaguardar os interesses nacionais, para já não referir o drama que será se houver um acidente. É que nós, os residentes por "estas bandas" temos pouca informação sobre o que fazer na sequência de um eventual acidente. Ou será que, à boa moda portuguesa, cada um, na altura, desenrascar-se-á como souber? Aguardemos os próximos desenlaces na sequência da queixa que Portugal irá fazer em Bruxelas, a qual poderá "agudizar" as relações entre os dois Países. É que, como diz o Povo, de Espanha nem "bons ventos nem bons casamentos", escrevo eu que...até sou bisneto de espanhóis.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

PORTALEGRE COM GENTE...MAS SEM GENTE

Numa manhã destas resolvi dar uma volta, a pé, pela cidade. Não dei o tempo por mal empregado. Há coisas que, por vezes tão perto delas, não observamos com o devido tempo e cuidado. Refiro-me, por exemplo, ao parque habitacional da cidade. É visível a sua degradação. Casas velhas a ameaçarem ruína são em número tão elevado que merecem uma atenção especial e necessitam de uma intervenção imediata. Naturalmente que não é fácil. Mas é um desafio que importa encetar para que não venhamos a ter ocorrências desagradáveis, como já aconteceu. E foi precisamente ali, no coração da cidade que, neste fim-de-semana, encontrei “um velho companheiro dos bancos da escola” e que há muito não via. Como sempre acontece nestas ocasiões, levámos algum tempo a recordar o percurso levado por cada um. Passados esses preliminares, o meu “velho companheiro de escola” afirmou-me que era um portalegrense privilegiado. Admirado, perguntei-lhe a razão de tal afirmação. Retorquiu-me que, vivendo há vários anos em Lisboa, só assiste de longe ao que por aqui se passa e, pontualmente, sofre com os lamentáveis episódios e ocorrências que em Portalegre se vão dando. Perante o meu ar estupefacto logo acrescentou que era visível a degradação de Portalegre, enquanto centro económico relevante do Distrito e a base de reflexão útil para o nosso futuro colectivo. Após um período em que Portalegre foi estimulante, no qual parecia querer ter uma palavra no desenvolvimento do interior durante a década de sessenta, diversos erros cometidos, assim como alguns dados objectivos, tornaram todo esse esforço incapaz de sustentação e num lugar onde os cidadãos mais novos não se realizam. As manifestações recentes dessa queda inapelável são algumas e tristes. Preferiu não as referenciar, pois são conhecidas de todos. Antes, quis referi-las sob uma formulação mais “elegante”:
- a estratégia de então cedeu à preguiça e à incompetência; 
- a cooperação e a ambição derivaram para negociatas e rivalidades paroquiais;
- a altivez burguesa passou a parolice provinciana;
- a fixação dos melhores e de maior potencial foi vencida pela sua fuga.
O desnorte foi, e vai assim acontecendo, um pouco por toda a parte, desde os eleitos à administração e dos intelectuais aos partidos, até às elites jovens.
Após as despedidas, cada um se fez ao seu percurso. Meditei então nas palavras trocadas, com o meu “velho companheiro dos bancos da escola”, que me pareceram sensatas e actuais. Na verdade, a degradação não é só do parque habitacional. A degradação do colectivo é muito mais preocupante.
Por isso, o meu apelo às figuras de Portalegre que prosseguem nos seus pequenos territórios a sua actividade económica, social, investigadora e artística, aos “lagóias” que, espalhados pelo país e pelo mundo, souberam granjear reconhecimento - sem deixarem de manter um olhar atento sobre as suas origens - aos anónimos e clarividentes cidadãos de Portalegre, quer sejam “lagóias ou estrangeiros”, para encontrarmos forças para um grito de revolta individual e um esforço de renovação colectiva. É que, perdoem-me as excepções, não podem ser aqueles senhores aparelhistas partidários, carreiristas políticos, representantes associativos à procura de protagonismo e agentes económicos a tratar dos seus negócios particulares os que moldam a nossa imagem e falam em nosso nome. É tempo de em Portalegre haver respeito pela liberdade e condições para derrotar a cobardia e o medo e de criar uma sociedade em que os poderosos não enriqueçam à custa dos desfavorecidos. 
Manuel Morujo
Nov.2004

sábado, 19 de novembro de 2016

POEMA A PORTALEGRE


Nos meus tempos de estudante, durante os anos sessenta,escrevi numa sebenta do meu curso liceal, um poema extravagante, bizarro e monumental...era um painel gigante, tosco, (de certa maneira), mas onde a cidade inteira, respirava à minha frente. Era um poema banal, febril e torrencial, ingénuo e adolescente, num estilo colegial, rasgado à luz natural, do meu sangue ainda quente; mas para mim, no entanto, era um poema brutal, sincero e original, cheio de angústia, raiva e espanto, onde pulsava a cidade, rua a rua, canto a canto; e à medida que o escrevia, com toda a sinceridade, cada verso por magia, revelava-se de repente, outro ângulo da "Verdade - Uma Verdade" calada - pulsando em grande plano, escondida na fachada, do ritmo quotodiano, de Portalegre cidade, Escrito de forma primária e muito influenciado, por um poeta estudado na seleta literária, dos meus tempos liceais, o meu poema estranho e louco, descrevia pouco a pouco, gente, situações, locais e ora me devolvia, num grito abafado e rouco, a vida como eu a via, na sua realidade, à luz clara do dia...ora, liberto ascendia, tão alto que me trazia, a "Luz da Eternidade"; e um halo de transcendência...certa espiritualidade...realçava a evidência, nua, de cada cena...como se houvesse um sentido, mais forte que o definido, na consciência plena, da sua expressão terrena...Poema?!...Um diário enorme, composto de vários poemas, diversas estrofes, conforme a natureza dos temas...poesia confessional e lírica, imprecatória e satírica, verso livre, sílabas métricas, quadras, oitavas, sextilhas, sonetos clássicos, redondilhas...um ensaio de formas poéticas: abria comigo na Sé, pensativo ali de pé, encostado à porta de entrada, "Quem é Deus?...Deus o que é?" ( quem me dera ter a fé desta gente ajoelhada)... e perdia-me a olhar, a luz branda dos vitrais, a brancura do altar, as imagens e os sinais, de vinte séculos de crênça, numa divina "Presença", mas por mais que eu procurasse, que no íntimo até rezasse, pondo em dúvida a razão, por mais eu me humilhasse, por mais que eu ajoelhasse, com a testa rente ao chão, nem um sopro dessa luz, de "Jesus belo na cruz", tocava o meu coração...só lá por momentos breves, sentia os Seus passos leves, apontando-me o caminho...mas as pistas que me abriam, logo se desvaneciam e eu ficava sozinho...e do fundo do meu nada, vinha-me imensa mágoa, uma angústia desesperada que me enchia os olhos de água..."Que chama me ardia no peito?, Que arquétipo me tocava?"...Havia um caminho estreito...uma lâmina esquiva, entre a luz e a razão, uma voz suave e viva, falava-me de perdão..., de um segredo iluminado, muito para além do verbo, mais ou menos confinado, à estreiteza do meu cérebro...de um sentido oculto e vago, libertário em qualquer trago, numa tasca de rotina, tão azul como um lago, tão terno como um afago...E fosse qual fosse a esquina ou a rua onde parava...(dois olhos de espanto e dor, um sorriso esverdeado, um abraço estertor, uma lágrima de falhado, gestos de um quotidiano, humilhado e esmagado, ao nível do ser humano) tudo eu interiorizava...e depois de tudo visto, de insónias de loucura, só a imagem de "Cristo se me impunha à sepultura...só a imagem de "Cristo", como um rio no coração, era para mim um misto, de angústia e libertação; e lembro-me de pensar isto: "esta calma multidão, no ritual a que assisto, de rastos em oração, desconhece o que quer que seja, seja O que for que deseja, que a tranquilize de vez, e para O encontrar rasteja, morre e não pestaneja, meu imbecil, não vês?!! Pára! Não procures mais! Lê por dentro estes sinais! Olha este Cristo à direita, tão triste a agonizar, e meu Deus! como deleita, a paz que nos faz chegar..."Divagava...divagava, até que o olhar prendia, numa trança tão bonita, sobre um pescoço lilás de alguém que eu conhecia...e eu quase sufocava, nessa harmonia infinita, que às vezes nos satisfaz, de concreta à luz do dia...depois esquecia Deus...os seus mistérios inefáveis e ficava idealizando vidas futuras, lares, céus e destinos insondáveis...
(continua)

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

AS TASCAS EM PORTALEGRE NOS ANOS SESSENTA


Eram imensas as "tascas" em Portalegre, nos anos sessenta. Havia ruas em que, porta sim, porta sim, era um local de convívio e discussão, de copos e bebedeiras, de má-língua e novidades. Ouvia-se, em quase todas, "sai mais um copo de três, eu quero um de cinco". Ou "dá aí uma sandes de atum e um "carapulo" que eu pago quando receber". Não querias mais nada, "fiado só para a semana", retorquia-lhe o "taberneiro". 
Enumerá-las todas, seria difícil. Mas algumas eram tão emblemáticas, que muitos ainda se recordarão delas. O Romualdo, O João dos Bigodes, O Escondidinho, O João da Praça e O Marchão eram as mais conhecidas e, provavelmente, as mais concorridas. Mas, sem desprimor para todas as outras aqui referidas, ou omitidas, a que deixou maior marca foi, sem dúvida, o Marchão, as Catacumbas do Marchão. Ainda hoje, antigos colegas do Liceu me falam dela, com saudade, considerando mesmo que, esse "ex-libris portalegrense", nunca deveria ter acabado.
A foto que se segue, na qual podemos relembrar o proprietário, Sr. Domingos Marchão, o Sr. Tapadinhas, o Sr. José Alves (Zé Smoke), o Sr. João (Careca) e o Sr. Caldeira (que foi empregado de mesa no Café Central) foi obtida na entrada principal do lado da Rua do Comércio. Porém, esta não era a única via para aceder a estas instalações. Existiam nas traseiras, na Rua da Capela, mais duas entradas, uma das quais dava entrada directa a um reservado destinado a pessoas mais importantes da sociedade local e que bebiam "copos", e comiam "petiscos", como os outros, onde apanhavam também umas "bebedeiras"...em privado. O Sr. Diogo, figura carismática desta casa, rodopiava por tudo o que era sítio, degraus acima, degraus abaixo, subindo, e descendo escadas até à cozinha, numa azáfama constante sobre o olhar, e o comando, impenetrável do Sr. Marchão.




E, só para fazer crescer água na boca, quem não se lembra do bucho assado, da miolada de rins e dos túbaros de porco, dos amendoins, dos tremoços e das batatas fritas, dos peixinhos da horta e dos carapaus de escabeche, das empadas e dos croquetes de bacalhau, da cerveja Imperial de Coimbra e do tinto (ou branco) do Sr. Benvindo das Barradas? 
Como é bom recordar estes excelentes pitéus preparados pela esposa do proprietário!
Tempos passados, que bom recordar. Até parece que os estou a saborear, neste instante, tal a grata recordação que retenho. 
Nota: um abraço ao Jerónimo Lino Mendes que me cedeu a foto.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

QUE BOM RECORDÁ-LO, TAMBÉM, DRº RENATO


A campainha tocou e uma nova aula iria começar. Como sempre, os alunos aguardavam a chegada do Professor, em silêncio, pois o respeito por eles era enorme. "Good morning", assim se dirigia sempre aos alunos o Professor, enquanto se encaminhava para a secretária. Mas, naquele dia, os olhos dele bastante expressivos, e o seu bigode de "gentleman", exteriorizavam uma certa boa disposição o que, diga-se em abono da verdade, nem sempre acontecia, principalmente quando a sua "briosa" perdia. Hoje, vou proceder à entrega dos exercícios de redacção subordinados ao tema "Como passei o meu Carnaval" merecedores da mais elevada pontuação, alguns verdadeiras obras de arte, assim iniciou a aula. Conhecedores do seu enorme humor "britânico", cáustico e corrosivo, logo nos preparámos para o que viria a seguir. À medida que entregava os exercícios, vagarosamente e com comentários à mistura, os nervos iam-se apoderando de nós pois sabíamos que os últimos a serem entregues seriam aqueles que mais prazer lhe daria para brincar com o seu destinatário. E o último, a ser entregue,  foi realmente aquele que ele comentou mais exaustivamente. Terá sido a frase "caí do horse and I get a constipation" aquela que caíu no "goto" do Professor e que o levou, durante alguma tempo, a repeti-la nas aulas seguintes, brincando com o aluno que, por acaso, até era um dos melhores da turma na disciplina de Inglês.
Pois, certamente que alguns já adivinharam que o Professor era, nem mais nem menos, o Dr. Renato de Azeredo Costa. 


Licenciado em Germânicas, e também em Direito, foi um dos Professores mais carismáticos do Liceu e que deixou, em cada aluno, uma marca inesquecível. Pai de quatro filhos - recordo aqui a Isabel a filha mais velha que infelizmente já nos deixou, não há muito tempo - era fácil vê-lo acompanhado da esposa a "ir beber café" ao Alentejano, ou ao Facha na companhia do filho mais novo (ainda criança) a quem dava sempre meia-colher de café para saborear a bebida de que ele tanto gostava. Outra particularidade, para além do seu inesquecível cigarro, era trazer sempre consigo exemplares de palavras cruzadas retirados dos jornais, que fazia com uma mestria inigualável, tal era a sua cultura e conhecimento da Língua de Camões.
Tantas seriam as estórias
que aqui poderia trazer. Mas não quero terminar este testemunho sem referir que, naquele tempo, os alunos do Liceu tinham um Grupo de Serenatas e que sempre que saíam à rua, parávamos à porta da sua residência, na Rua cinco de Outubro, que, deliciado, nos ouvia e "matava" saudades do seu tempo de estudante em Coimbra, onde, segundo constava, tinha sido um verdadeiro...Estudante Coimbrão.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

DR. FRANCISCO BARROCAS, QUE BOM RECORDÁ-LO

Viver o presente e aguardando o futuro, mas sem esquecer o passado, é uma forma de sentir a vida. As vivências levadas à reflexão não são mais do que recordar o "eu" e tentar saber o motivo por que aconteceram assim e não de outra maneira. 
Um dia, no início de um novo ano lectivo,no Liceu Nacional de Portalegre, entrou na sala de aula um novo Professor que se dirigiu aos alunos com um sorriso "malandreco" e apresentou-se:"...sou natural da terra mais fina de Portugal, alguém sabe qual é? Levantei-me de imediato e disse, "Seda, sôtor". E a resposta não tardou: "bem podias ter ficado calado pois tu eras o único que sabias, já te conheço há muitos anos. O Dr. Francisco Barrocas, esse mesmo, era o Professor. Efectivamente, conhecia-o desde muito jovem.


O Dr. Barrocas, como era conhecido na cidade, foi um figura ímpar com uma cultura acima da média que gostava de "gozar" a vida, muito simpático e com um sorriso muito característico e quase sempre com o cigarro a acompanhá-lo. Deslocava-se com um passo lento, mas muito seguro, olhando sempre em seu redor como bom observador do mundo que o rodeava. Recordo-me, aquando do meu segundo ano liceal, ter-me ensinado Francês, na sua residência na Rua da Mouraria, onde já por ali deambulava uma menina muito bonita com cabelos bastante alourados, com sorriso constante e simpático como o Pai. Essa mesmo, era a Fernanda, sua estimada e muito querida filha.

   


Não resisto a contar mais uma pequena estória que se passou precisamente no dia vinte e três de Maio de mil novecentos e sessenta e três. Era Feriado Municipal em Portalegre e eu, com o meu Amigo Augusto Tavares, resolvemos ir passar o dia em Badajoz. Ambos, trajados com Capa e Batina, procurámos uma "boleia", perto do antigo  Posto de Viação e Trânsito nos Assentos que nos levasse até aquela cidade espanhola. Eis então que, a determinado momento, surge um automóvel com um casal aparentando os sessenta anos e, em Inglês, pergunta-nos o condutor se "éramos estudantes de Coimbra" e para onde íamos. Olhámos um para o outro e em uníssono respondemos "que sim" éramos  estudantes de Coimbra (uma mentira que nos abriria a porta do carro) e fomos então convidados a entrar. Lá fomos falando com eles, quanto o nosso conhecimento de inglês o permitia, fundamentalmente sobre Portalegre e Coimbra pois, felizmente, ambos conhecíamos a "cidade dos estudantes". Chegados a Badajoz, dirigimo-nos até ao Café Colon, local que frequentámos várias vezes sozinhos ou com os nossos Pais, situado no Largo do Ayuntamento local e perto da Calle de San Juan onde se compravam os caramelos e "outras coisas"... lá mais ao fundo Pedimos o habitual, calamares e coca-cola com uma rodela de limão. Em dado momento, eis que entra o Dr. Barrocas "muito bem acompanhado" e que ao ver-nos logo se dirigiu à nossa mesa. Levantámo-nos (hábito que tínhamos quando alguém mais velho, e neste caso nosso Professor, nos dirigia a palavra) e com a sua "voz grossa, mas colocada" disse-nos: Então o que andam estes dois "garanhões", sozinhos, por aqui a fazer? Tenham cuidado que vocês ainda são muito novos. Envergonhados, lá continuámos o nosso petisco e ele sentou-se a beber o seu café.
Mas o Dr. Francisco Barrocas, não foi apenas Professor no Liceu de Portalegre de várias disciplinas, tal era a sua cultura e conhecimento. Foi-o também na Escola Industrial e Comercial de Portalegre de onde se aposentou em 1986. Foi também, e para além de ter sido co-fundador do Colégio de Santo António, juntamente com o Dr. José Nunes e o Dr. Plínio Serrote, dirigente associativo do Sport Clube Estrela, da Sociedade Euterpe e do Clube de Pesca Desportiva do Alto Alentejo por exemplo. 
E aqui presto a minha homenagem ao Amigo, Professor e uma figura grada de Portalegre onde viveu a maior parte da sua vida.






quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A IDA À FEIRA DAS CEBOLAS...NOS ANOS 50 E 60

Viver o presente e aguardando o futuro, mas sem esquecer o passado, é uma forma de sentir a vida. As vivências, levadas à reflexão, não são mais do que lembrar o "eu" e tentar saber o motivo por que aconteceram assim e não de outra maneira. Nos anos cinquenta, e sessenta, a população do Concelho de Portalegre aguardava, ansiosamente, o mês de Setembro e com ele a Feira das Cebolas. O comércio florescia nesses três dias que a Feira durava e os Feirantes faziam, também, grande negócio. A Rua do Comércio, assim como a Rua Cinco de Outubro, passando pelo Rossio e subindo até à antiga Escola da Fontedeira era um "fervilhar" de gente que se prolongava até altas horas da noite. Todavia, era quando nos aproximávamos do Plátano que sentíamos os primeiros indicadores que por ali havia "festa", com as "barracas" do torrão de Alicante e os rebuçados de ovos, assim como as primeiras sugestões para as crianças, as quais causavam as primeiras dores de cabeça aos Pais. Ó Mãe, eu quero um balão e um chupa-chupa dos grandes, ao que a progenitora respondia "compramos ali mais acima, são mais bonitos". E surgia a primeira beiça. Andando um pouco mais, começava a ouvir-se o barulho a aumentar, o som de música e o apregoar das(os) feirantes.



Não tardava, surgiam os primeiros aglomerados de cebolas e alhos, melancias e melões, não faltando os cestos de verga e as escadas de madeira para a apanha da azeitona que, não tardava, estava a chegar. 


E entrava-se no Jardim Público, o Jardim da Cascata eternamente para muitos, onde, de um lado e de outro, as "barracas" apinhadas de gente vendiam o mais diverso material. Aqui freguesa, "temos as últimas novidades vindas do estrangeiro", "compre qualquer coisa para a menina ou para o menino". No meio, junto a um dos muitos candeeiros de iluminação, uma senhora vendia algodão doce e também controlava uma máquina com a cara de uma bruxa, que, por dez tostões, lia a "sina" de um(a) mais ousado(a) que se aproximava. "Ó freguês, não quer disparar um "tirinho" ou atirar três bolas para ver se acerta nas latas, dá sempre prémio", convidava uma "feirante bem apessoada" e que, normalmente, tinha muitos fregueses.



E, finalmente, chegados ao local da diversão, o som era ensurdecedor. Mais uma voltinha no Carrocel, dá para o menino, para a menina e para toda a família, ouvia-se alto e bom som quer do Araújo quer do Alegria. Entretanto, um som mais forte surgia: era do "poço da morte" onde arrojados aventureiros em cima de uma moto, ou de um carro, enfrentavam as leis da física. E no recinto dos "carrinhos de choque", depois de alguma espera, lá chegava a vez de ir dar uma volta com aquela postura de condutor tipo o "acima, abaixo". Ó amigo, gritava alguém do avião prestes a levantar voo, pode por uma música do Paul Anka? E ouvia-se no altifalante, "não levanta, então puxe a alavanca.


E a noite já ia alta depois de várias subidas, e descidas, pelo recinto da Feira. 
Mas faltava algo ainda. Numa das laterais do Jardim, o cheiro a óleo quente era intenso. Os "massa-frita" (assim eram conhecidos os Portalegrense) faziam longas filas para saborearem as delícias da Famíla Mamede que fazia as melhores farturas, e malaquecos, jamais saboreadas, acompanhadas de um "cafézinho de balão".
E lá íamos para casa, felizes e contentes, por mais um evento que marcava a vida dos Portalegrenses...no tempo em que Portalegre era uma Cidade.>Viver o presente e aguardando o futuro, mas sem esquecer o passado, é uma forma de sentir a vida. As vivências, levadas à reflexão, não são mais do que lembrar o "eu" e tentar saber o motivo por que aconteceram assim e não de outra maneira. Nos anos cinquenta, e sessenta, a população do Concelho de Portalegre aguardava, ansiosamente, o mês de Setembro e com ele a Feira das Cebolas. O comércio florescia nesses três dias que a Feira durava e os Feirantes faziam, também, grande negócio. A Rua do Comércio, assim como a Rua Cinco de Outubro, passando pelo Rossio e subindo até à antiga Escola da Fontedeira era um "fervilhar" de gente que se prolongava até altas horas da noite. Todavia, era quando nos aproximávamos do Plátano que sentíamos os primeiros indicadores que por ali havia "festa", com as "barracas" do torrão de Alicante e os rebuçados de ovos, assim como as primeiras sugestões para as crianças, as quais causavam as primeiras dores de cabeça aos Pais. Ó Mãe, eu quero um balão e um chupa-chupa dos grandes, ao que a progenitora respondia "compramos ali mais acima, são mais bonitos". E surgia a primeira beiça. Andando um pouco mais, começava a ouvir-se o barulho a aumentar, o som de música e o apregoar das(os) feirantes.







quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O CICLO DA NATUREZA






Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima soidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza, 
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» —

Antero de Quental, in "Sonetos" 





sábado, 17 de setembro de 2016

PORTALEGRE-UM MISTO DO PASSADO COM O PRESENTE

A tarde escurecia, rapida­mente. No Verão, o dia é enorme mas o crepúsculo também chega. Dura, quão o Sol o deixar viver. 
Sinto-me angustio­so, melancólico, revoltado. De­cido-me a sair de casa e po­nho-me a percorrer as ruas da minha cidade, sem destino e solitário como um condenado na sua cela, fugindo de mim.
De­sencaminhado na solidão, co­meço a perder o rumo. Sinto-me disperso e mais só do que nunca. Quero conhecer o se­gredo das coisas e das almas.
De repente, paro. "Acordo" e dou comigo frente à Casa do Poeta, José Régio:

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.

Cântico Negro. Recordo o passado, tento entender o presente, não sei se desejo o futuro.
Um pouco adiante, rendido ao cansaço, sento-me num banco debaixo de uma árvore a qual deixa passar uma luz vinda daqueles candeeiros inexistentes ali nos tempos estudantis. Escuto a voz de tudo o que sinto.
“A minha Pátria é a Língua Portuguesa”, veio-me à memória Fernando Pessoa:

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
È a vela que passa,
Na noite que fica.

Já é tarde. A noite caiu e está agradável com a brisa fresca que se faz sentir. Levanto-me e caminho pela cidade velha. De soslaio, tenho ainda tempo de ver que as arrojadas chaminés já não brotam fumo na direcção da cidade. Num ápice, início a caminhada pela principal artéria da cidade:

José Maria Alves, Padaria Marques, Alfaiataria Traguil, Caixa Geral de Depósitos, Sede do Turismo de Portalegre, Mercearia Carichas, Mansão Alto Alentejo, Fábrica dos Pirrolitos do Sr. Correia, Sr. Mota, Tipografia Casaca, Tasca do Comandante dos Bombeiros, Café Alentejano, Salchicharia Raimundo, Sr. José Augusto, J, Facha, Café "A Leitaria", Café Vitória, Casa Roque,  João Morujo, Sr. Silvino Henriques da Silva, Alfaiataria Moutoso, Sr. Teixeira, Sr. Monte Empina, Casa Chiado, Farmácia Esteves Abreu, Ourivesaria Elias, Sr. João dos Bigodes, Sr. Alcobia Marques, Sr. Manuel Azinhais, Alfaiataria Albano Durão, Mercearia Pinheiro, Casa Ferreira, Pérola Comercial, Sr Júlio Margalho, Casa Piçarra, Sr. Filipe José Quezada, Sr. António Ribeiro, Casa de Bordados Oliva, Casa Vaqueiro, Casa Nini, Quesada&Cardoso, Sr. Tiago, Ourivesaria Árias-I, Sapataria Ramos, Padaria Esteves Moreira, Sr. Felisberto, Banco Nacional Ultramarino, Alfaiataria Hernâni, Sr. Custódio Silva, Café Central, Correios de Portugal, Sapataria Sanches, Salchicharia Brito, Sr. José Cardoso, Casa Ascenção, Casa Formidável, Fotógrafo Rosiel, Sr. Hermínio de Castro, Sr. Martins, Sr. Umbelino, Alfaiataria Manuel Cabecinha, Sr. António Pereira, Casa Mirra, Sr. Francisco Paiva, Electro.Central, Farmácia Nova, Sr. Lourinho, Ourivesaria Cabecinha, Casa Singer, Sr. Godinho, Padaria Baptista, Barbearia Pardal, Sr. Guanilho, Sr. Joaquim Ribeiro, Casa Nuno Álvares, Pastelaria "A Tentadora", Chapelaria e Camisaria Garcia, Casa Silva Freitas, Sapataria Camejo, Sr. Fitas, Sr. Milhano, Sr. Domingos Marchão, Sr. Manuel Vintém, Casa Tapadinhas, Sr. Casanova, Casa das Sedas-Sr. Simão, Companhia de Seguros Ultramarina, Tinturaria Espiga, Ourivesaria Árias-II, Sr. Cruz, Café Luso, Mercearia Rodolfo, Casa Papafina, Cegrel, Sr. Casimiro Bezerra, Café Facha, Casa Raimundo, Estação de Serviço Sonap, Cervejaria Tropical e, quase sem dar por isso…Palácio Póvoas.

Na rua, que deixei para trás sem vozes e sob a luz fresca da Lua, cruzei-me apenas com um ou outro canídeo que procurava um ou outro alimento descuidado, que o satisfaça.
Nostálgico, olho sem nada ver. Nesse instante, pareceu-me ouvir alguém chorar lamentando a partida que o destino pregou aos Portalegrenses. Era alguém que ali deixou muitas décadas da sua vida com uma entrega e dedicação incompreendida. Outrora, esta artéria era o coração da cidade, hoje sem coração, sem respiração, sem alma…apenas memórias.
Ponho-me a caminho de casa e recordo o Poeta Cristóvão Falcão:

Todo o bem dura um momento,
O mal é de todo o ano
Por breve contentamento,
Grande tempo, grande engano.

A minha homenagem a todos aqueles que já partiram (não só aos aqui referidos) e que fizeram desta cidade um espaço do qual nos orgulhávamos.

(Manuel Alberto Morujo)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

FUTURO CINZENTO, TALVEZ NEGRO

   Portugal quis fazer parte da elite mundial e para isso ade­riu à União Europeia (na altura chamava-se Comunidade Económica Europeia). Estáva­mos em mil novecentos e oiten­ta e seis. Recebemos ajudas e criou-se uma dinâmica como se se tratasse dum País em vias de desenvolvimento. Aqui e  ali pareceu que a nossa mentalidade iria mudar e que deixaríamos de ser o País das baldas, do desleixo, das irresponsabilidades e que passaría­mos a ser um Povo mais produtivo, lutador incansável e criando riqueza para ser dis­tribuída com justiça social. 
Mas..."a montanha pariu um rato". A realidade está à vista, pon­do os Portugueses descrentes, depressivos, sem auto-estima ou referências e valores que possam alterar este estado de coisas.
A verdade é que, passados todos estes anos, as ajudas vão terminar deixando-nos, prati­camente, entregue a nós pró­prios. Em contrapartida, outros Povos mais atractivos, e com valores bem mais homogéneos e consistentes que nós, irão partilhar o nosso território de concorrência e receberão as ajudas idênticas às que nós já recebemos.
A abertura da União Europeia a Leste poderá vir a constituir o nosso maior problema, desde o vinte e cinco de Abril. Portu­gal, durante este período de apoios, não interiorizou que a produtividade era factor essencial para que pudésse­mos ser mais solidários, mais empreendedores, mais traba­lhadores, mais eficientes. Em cada sector, em cada activida­de, em cada empresa deveria ter estado presente que a "ga­linha dos ovos de ouro" seria efémera. E isso não aconteceu pois, du­rante aquele período, faltou uma cultura de responsabilida­de consistente e não soubemos interiorizar que a produtivida­de seria a primeira forma de solidariedade. Houve Portugueses para quem isto era óbvio e Por­tugueses para quem não o foi, assim como houve Portugue­ses que estiveram disponíveis e motivados para aquele desafio e Portugueses para quem o desafio era excessivo ou desne­cessário. O resultado está à vista: vive-se hoje em Portugal uma verdadeira tensão, uma tensão essencial­mente social que atravessa to­das as classes e condições. So­mos hoje o Povo menos pro­dutivo da União Europeia. Mas, por exemplo, são Portugueses vinte e cinco por cento dos trabalhadores do Luxemburgo, o Povo mais produtivo da Eu­ropa!
 Mas, o que está mal entre nós pois não alteramos os nos­sos maus hábitos? Creio, e cer­tamente muitos concordarão comigo, que o que está mal en­tre nós é o sistema político e, consequentemente, os que en­tendem dever regular a sua ac­ção segundo as necessidades do momento para chegarem mais facilmente a um resultado tem-­porizador, aguardando as cir­cunstâncias oportunas. Chamo a isto OPORTUNISMO. Afir­mando-se contrariamente à verdade, que não é o que parece ser. Chamo a isto MENTIRA. Pobre Povo, cuja PÁTRIA é a Língua Portuguesa.
Vamos deixar que isto continue assim, sem corrigir nada? Seremos incapazes de evitar que a História se repita?
Manuel Alberto Morujo
6 de Fevereiro de 2004

terça-feira, 20 de outubro de 2015

VERA ET FALSA

Espertos e parvos, gente fina é outra coisa, "pés descalços" cheiram mal, inverdades e verdades.
Verdade.
Em Portugal, para a Direita, há duas classes de Partidos: os do "arco da governação" e os outros. Os votos da direita são legítimos os outros não o são. Os primeiros são gerados dentro do casamento, os outros não. Todos têm direito a um voto, mas os da esquerda são menos considerados, são de gente estranha. O Governo legítimo tem que ter a aprovação da maioria do Parlamento mas, se essa maioria for de esquerda, não é legítimo, é um "golpe de Estado". Tenho vontade de chorar, não pelo que está a acontecer, mas por ter ouvido (e visto) o "patriotismo" de PP a abdicar da cadeira número dois em prol do futuro do País. Chorei, choro e chorarei por ter vivido quarenta anos a ver o País progredir, gente feliz com os ordenados e pensões ao nível dos países mais prósperos e, principalmente, o futuro dos meus descendentes assegurado, sem precariedade e
com meios subsistência elevados.
E amanhã é outro dia...o Sol brilhará para todos nós😄

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

POEMA DE RAUL CÓIAS DIAS

Essa coisa da Fé perdi-a há uns anos. Mas respeito quem continua a revelar-se com Ela, cujo exemplo tenho perto de mim. Passei a procurar a esperança de uma maneira introspectiva, o que me leva muitas vezes a recordar factos e ocorrências, verdades e inverdades, traições e coligações, falsos amigos e amigos. Muitos destes últimos, poucos felizmente, são exemplos que procuro entender e seguir, quer estejam ainda entre nós, quer nos tenham deixado para irem para um lugar onde, mais dia, menos dia, para lá iremos todos. Há pouco lembrei-me do Raul e, mais uma vez, sinto um prazer enorme em partilhar um poema dele:
REVELAÇÃO
Curvo-me sobre mim e comovido,
Registo o pensamento no papel,
E as palavras revelam-me o sentido,
Do meu destino, doces como mel.

Tudo quanto aqui tenho vivido
Sonhos, alegrias, lágrimas de fel,
Não passa de um milagre repetido,
Sem que Quem o fez, se me revele.

Mas descubro estas pequenas maravilhas,
Versos de uma ternura branda e singular,
Como o sabor dos beijos das minhas filhas,
Ou da suave mansidão das ilhas,
Em noites, de muito amor e de luar.
E vejo então que és tu, Senhor, e brilhas!











quarta-feira, 7 de outubro de 2015

GOVERNO DE ESQUERDA ?

Governo de esquerda? Olhe que não, olhe que não, o que seria das nossas criancinhas a serem "comidas ao pequeno-almoço" pelos Comunistas? Temos que garantir, com sustentabilidade, que os nossos jovens possam procriar...lá fora para onde tiveram de emigrar.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

E O "ÁRBITRO", QUE RARAMENTE SE ENGANA E NUNCA TEM DÚVIDAS, NÃO VAI AO 5 DE OUTUBRO

Estou preocupado pela intervenção do "árbitro", antes do jogo começar. Não é que não lhe reconheça "isenção" pois, para quem "nunca tem dúvidas e raramente se engana", longe de mim pôr em causa tão eminente ser pensante. Mas, para quem se está nas "tintas" para participar nas comemorações do 5 de Outubro, levanto a dúvida, ainda que quase insignificante, se não estará o "árbitro" a perder qualidades e desta vez tem mesmo dúvidas e certamente se vai enganar! 
E vamos lá ao engano pois urge pensar antes de o concretizar. Será que o que está em causa é referendar o actual Governo ou referendar as inúmeras asneiras que foram efectuadas pelos seus antecessores, nomeadamente pelo actual "árbitro" que, durante mais de vinte anos, foi principal protagonista quer como gestor das finanças públicas, quer como o homem do leme e, mais recentemente, a olhar para o palácio, perdão... a olhar do palácio. Afinal, o que o Povo quer, traduz-se em votos ou em representantes na casa da democracia? É que uma coisa é o número de votos, outra coisa é haver votos que não contam - como milhares no meu Distrito, devido a essa contagem segundo o método de Hondt - e assim a representação na casa da democracia não representar a vontade maioritária dos eleitores. E isso não é democracia. 
Preocupa-me que o "árbitro" não tenha dúvidas do que vai fazer no dia 5 de Outubro mesmo antes do jogo começar e ainda, o mais preocupante é, sem saber qual será o resultado final - a não ser que as sondagens sejam verdades inequívocas! 
Todavia, estaria preocupado se se tratasse de um árbitro sem experiência, que não tivesse dado provas de isenção na apreciação dos lances e, fundamentalmente, por não ter contribuído para a melhoria das leis do jogo. Mas não há motivos para alarme pois, este "árbitro" em final de carreira, vai manter os seus pergaminhos, não tem dúvidas e não se vai enganar.

domingo, 5 de janeiro de 2014

A MINHA HOMENAGEM AO EUSÉBIO


Não tivesse sido a notícia funesta deste dia, a continuação do meu silêncio manter-se-ia. No entanto, senti que o deveria quebrar como forma de agradecer ao EUSÉBIO os inúmeros momentos de prazer, e alegria, que me concedeu quer com a camisola do SPORT LISBOA E BENFICA, quer com a camisola da Selecção de PORTUGAL.
A primeira vez que tive a oportunidade de o ver jogar "ao vivo" foi no dia 21 de Março de 1962. Tinha então quinze anos. O meu Pai, inveterado Sportinguista, levou-me, nesse dia, ao então Estádio da Luz para assistir à primeira mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus entre o Benfica e o Tottenham, jogo em que o EUSÉBIO não marcou qualquer golo mas fez uma exibição das melhores que vi, até hoje, fazer a qualquer jogador. O meu Pai, repito, intransigente Sportinguista, disse-me antes, e durante a viagem até Lisboa: "não te levo a ver jogar o Benfica, mas sim a veres jogar o EUSÉBIO". No regresso a Portalegre, recordo-me de O ter ouvido dizer várias vezes que “afinal valeu a pena ter ido a Lisboa...para ver jogar o EUSÉBIO”. Sintomático do que, já nessa altura, o lendário jogador provocava de admiração nos "rivais".
Felizmente, ao longo dos anos foram várias as oportunidades de cumprimentar, e trocar, breves palavras com o EUSÉBIO, a primeira das quais em Castelo de Vide, nos princípios dos anos oitenta, numa deslocação que ele fez para participar num jogo das "Velhas Guardas" do SLB. Em determinado momento, durante o aquecimento, aproximou-se dos limites do relvado onde eu me encontrava com o meu filho Ricardo. Cumprimentei-o e, olhando para os seus joelhos, perguntei-lhe a quantas operações tinha sido sujeito, tendo respondido, com a sua habitual humildade, que tinham sido seis...só ao joelho esquerdo. 
Um outro breve encontro foi no Restaurante da Tia Matilde. Durante vários anos era o Srº Emílio, proprietário do Restaurante, que me comprava os bilhetes para assistir aos jogos internacionais do SLB. No dia 18 de Abril de 1990, acompanhado do meu filho Ricardo, entrei na Adega da Tia Matilde e, perante alguma admiração, ao Balcão do Bar estavam o Humberto Coelho e o EUSÉBIO. Cumprimentei-os, trocámos breves palavras no seguimento da minha afirmação de que tinha enorme prazer em estar na presença de dois enormes jogadores do SLB e que este encontro entendia-o como prenúncio de que iríamos ter uma noite de grande alegria, o que veio a acontecer.  E o Sr. Emílio, como de costume, lá tinha  uma vez mais os meus bilhetes. 
Foram outras as vezes que troquei palavras de circunstância com o EUSÉBIO, nomeadamente enquanto fui Presidente da Casa do Benfica de Portalegre e que, por esse motivo, fui várias vezes convidado a assistir a jogos no Camarote da Presidência do Clube, onde ele sempre estava presente.
Hoje, no dia em que o EUSÉBIO se liberta do Mundo dos Vivos, aqui fica a minha homenagem ao Homem, mas principalmente ao jogador do SPORT LISBOA E BENFICA que me concedeu as maiores alegrias da minha vida desportiva. 
Manuel Alberto Morujo

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ERGUEI-VOS LAGÓIAS

Numa manhã destas resolvi dar uma volta, a pé, pela cidade. Não dei o tempo por mal aproveitado. Há coisas que, por vezes tão perto delas, não observamos com o devido tempo e cuidado. Refiro-me, por exemplo, ao parque habitacional da cidade. É visível a sua degradação. Casas velhas a ameaçarem ruína são em número tão elevado que merecem uma atenção especial e necessitam de uma intervenção imediata. Naturalmente que não é fácil. Mas é um desafio que importa encetar para que não venhamos a ter ocorrências desagradáveis...como já aconteceu. E foi precisamente no coração da cidade que, neste fim-de-semana, encontrei “um velho companheiro dos bancos da escola” e que há muito não via. Como sempre acontece nestas ocasiões, levámos algum tempo a recordar o percurso levado por cada um, nos últimos anos. Passados esses preliminares, o meu “velho companheiro de escola” afirmou-me que era um portalegrense privilegiado. Admirado, perguntei-lhe a razão de tal afirmação. Retorqui-me que, vivendo há vários anos em Lisboa, só assiste de longe ao que por aqui se passa e, pontualmente, sofre com os lamentáveis episódios e ocorrências que em Portalegre se vão dando. Perante o meu ar estupefacto logo acrescentou que era visível a degradação de Portalegre, enquanto centro económico relevante do Distrito e a base de reflexão útil para o nosso futuro colectivo. Após um período em que Portalegre foi estimulante, no qual parecia querer ter uma palavra no desenvolvimento do interior durante a década de sessenta, diversos erros cometidos, assim como alguns dados objectivos, tornaram todo esse esforço incapaz de sustentação e num lugar onde os cidadãos mais novos não se realizam. As manifestações recentes dessa queda inapelável são algumas e tristes. Preferiu não as referenciar, pois são conhecidas de todos. Antes, quis referi-las sob uma formulação mais “elegante”. 
Sabes, disse o meu interlocutor, eu penso que:
- a estratégia de então cedeu à preguiça e à incompetência;
- a cooperação e a ambição derivaram para negociatas e rivalidades "paroquiais";
- a altivez burguesa passou a parolice provinciana;
- a fixação dos melhores e de maior potencial foi vencida pela sua fuga.
O desnorte foi, e vai assim acontecendo, um pouco por toda a parte desde os eleitos à administração até os intelectuais, aos partidos, às elites e, principalmente, aos jovens.
Após as despedidas, cada um se fez ao seu percurso. Meditei então nas palavras trocadas, com o meu “velho companheiro dos bancos da escola”, que me pareceram sensatas e actuais. Na verdade, a degradação não é só do parque habitacional. A degradação do colectivo é muito mais preocupante.
Por isso, o meu apelo às figuras de Portalegre que prosseguem nos seus pequenos territórios a sua actividade económica, social, investigadora e artística, aos “lagóias” que, espalhados pelo país e pelo mundo, souberam granjear reconhecimento - sem deixarem de manter um olhar atento sobre as suas origens - aos anónimos e clarividentes cidadãos de Portalegre, quer sejam “lagóias ou estrangeiros”, para encontrarmos forças para um grito de revolta individual e de um esforço de renovação colectiva. É que, perdoem-me as excepções, não podem ser aqueles senhores aparelhistas partidários, carreiristas políticos, representantes associativos à procura de protagonismo e agentes económicos a tratar dos seus negócios particulares os que moldam a nossa imagem e falam em nosso nome. É tempo de em Portalegre haver respeito pela liberdade e condições para derrotar a cobardia, o medo, o comodismo e de criar uma sociedade em que os poderosos não enriqueçam à custa dos desfavorecidos. 
Manuel Morujo
Nov.2004